A filipinização da América

Está a consolidar-se a equipa norte-americana que gere uma política em que os fins justificam os meios e em que só os resultados contam.

Mais uma mudança na equipa política da Casa Branca, e mais uma que não vai no bom sentido. Rodeado dos seus aliados, o presidente Trump está mais seguro para ser ele mesmo – e o elefante na loja de loiças vai sentir-se mais liberto para partir coisas. Esta começa a ser a verdadeira equipa do Presidente, com ideais partilhados entre todos: ódio à globalização, desprezo pelo aquecimento global (incluindo pelos esforços para o combater), recusa da diplomacia e preferência pela força (como no caso do Irão), defesa de imposição de tarifas unilaterais para minar o comércio global e pôr em causa a estrutura comercial transnacional. E, claro, a defesa da tortura como acção legítima de um estado soberano. É a elevação do bullying a política oficial e a transformação dos algozes em “patriotas exemplares”, exactamente como Trump os considera. Ao mesmo tempo, o aliado ideológico Steve Bannon anda a tentar criar a Internacional Nazi-Populista, de forma a alimentar os sonhos desviantes – e delirantes – que tem tido desde que foi expulso da Casa Branca.

Tudo isto coloca os Estados Unidos ao nível das Filipinas. E é também o sonho dos republicanos, que têm finalmente os postos-chave da administração preenchidos por falcões – duros, empedernidos, que não olham a meios para atingir os fins. É uma forma de ver o mundo como um imenso jogo do Risco em que o que interessa é ganhar e em que o comércio é uma conta de soma zero. É um mundo simples, a preto e branco, que só tem um inconveniente: não é real. E o primeiro choque pode vir já com a Coreia do Norte, um jogador que não conhece sequer as regras do jogo e que garantidamente não estará disposto a satisfazer a megalomania trumpista.

Não é assim que o planeta funciona, porque não é assim que se gere a força que cada um tem. É esta instabilidade – e infantilidade – que tem prejudicado de forma crescente os EUA no cenário internacional. Ao mesmo tempo, assiste-se ao crescimento da China no cenário internacional com uma força tranquila, que não sofre ventos de mudança e se vai consolidando mais e mais. Seria bom que Washington olhasse mais para Pequim, mas isso pressupõe uma disponibilidade para aprender que não se reconhece na actual administração. Afinal, o bully não vai às aulas, fica no recreio a incomodar os colegas.

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