Mais procura na Alemanha melhora perspectivas de crescimento em Portugal

OCDE reviu em alta previsões de crescimento nas principais economias europeias. Álvaro Santos Pereira diz que, se o novo cenário se confirmar, o bom desempenho terá reflexos positivos em Portugal.

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Álvaro Santos Pereira está mais confiante no motor alemão da economia da zona euro Enric Vives-Rubio

A expectativa de um melhor desempenho das maiores economias europeias, com destaque para o efeito dos acréscimos dos estímulos orçamentais, investimento e salários previstos para a Alemanha, reforça a possibilidade de a economia portuguesa crescer mais do que os 2,6% até agora projectados para este ano pela OCDE e pelo Governo português.

No dia em que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) apresentou as suas projecções interinas para as principais economias mundiais, o economista-chefe da instituição, Álvaro Santos Pereira classificou, em declarações ao PÚBLICO, como “muito provável” a possibilidade de Portugal beneficiar da conjuntura internacional positiva e garantir um ritmo de crescimento este ano maior do que o projectado no passado mês de Novembro.

“Obviamente que para Portugal será muito importante a evolução das economias europeias e aquilo que estamos a prever para economias como a Alemanha ou França pode ter um impacto muito positivo", disse o antigo ministro da Economia, que no início deste ano substituiu interinamente Catherine Mann no cargo de economista-chefe da OCDE.

Nas previsões publicadas esta terça-feira, a entidade sedeada em Paris passou a sua previsão de crescimento mundial este ano dos 3,7% antecipados em Novembro para 3,9%. E, no caso da zona euro (onde se encontram os principais destinos das exportações portuguesas), a previsão de crescimento em 2018 passou de 2,1% para 2,3%.

Nesta fase, apenas foram apresentadas novas previsões para as economias mais relevantes à escala mundial, pelo que no caso de Portugal a estimativa de crescimento em vigor é ainda aquela realizada pela OCDE em Novembro passado, de 2,6%, precisamente o mesmo valor projectado pelo Governo.

Se para a Espanha (o maior destino das exportações portuguesas) também não há novas previsões, para os segundos e terceiros principais parceiros a melhoria das expectativas da OCDE é significativa. Em relação à França, a previsão de crescimento para 2018 passou de 1,8% para 2,2%. E na Alemanha, a subida foi de 2,3% para 2,4%.

Para Álvaro Santos Pereira, aquilo que se está a passar na maior economia da zona euro é mesmo o que dá mais motivos para acreditar num desempenho forte da economia europeia este ano, havendo até a possibilidade de se verificarem taxas de crescimento mais elevadas do que as agora projectadas.

“A Alemanha está claramente a revelar-se como o motor do crescimento na zona euro”, afirma, salientando que “o investimento está a aumentar bastante” e que “o acordo de coligação governamental assinado aponta para um reforço muito significativo dos estímulos orçamentais, na ordem dos 0,3% do PIB ao ano”. Para além disso, há também indícios claros na Alemanha de que se possa assistir a uma evolução mais rápida dos salários, acrescenta Álvaro Santos Pereira, recordando o acordo recentemente assinado pelo sindicato IG Metal, “que já se está a reflectir noutros sectores”.

“Numa economia como a alemã, estes são sinais importantes e que, pelo efeito que podem ter na procura interna, podem ajudar o desempenho dos outros países da zona euro”, afirma o economista-chefe da OCDE, que no caso português, destaca também o facto de se estar a assistir a uma recuperação do investimento.

No relatório, a OCDE diz em relação à zona euro que “as políticas fiscais e monetárias acomodatícias, as melhorias nos mercados de trabalho e os elevados níveis de confiança dos consumidores e das empresas estão a ajudar a estimular a procura”.

Não é só em relação à zona euro que a OCDE está mais optimista. As revisões em alta da previsões foram generalizadas. No caso dos EUA, a OCDE mudou a sua previsão de crescimento este ano de 2,5% para 2,9%. No Japão passou de 1,2% para 1,5%, na China de 6,6% para 6,7%, no Brasil de 1,9% para 2,2% e na Índia de 7% para 7,2%.

Álvaro Santos Pereira aponta dois grandes factores por trás deste optimismo: “o aumento do comércio mundial e o regresso das variações mais elevadas no investimento”.

No relatório agora apresentado, há no entanto um risco a ensombrar o cenário genericamente positivo: a possibilidade de um aumento das políticas proteccionistas em várias economias do planeta. Uma ameaça tornada mais real com a decisão dos EUA de imporem taxas alfandegárias mais elevadas em produtos como o aço e o alumínio e que, a concretizar-se, “afectaria negativamente a confiança, o investimento e os empregos”.

O ex-ministro da Economia explica que, nas previsões agora divulgadas não foram incluídos efeitos negativos. “Não está no nosso cenário central. Achamos que será possível diminuir a tensões, continuamos a acreditar que o diálogo é possível”, afirma.

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