Acusado de assédio sexual, Richard Meier abandona atelier por seis meses

Cinco mulheres acusam o arquitecto norte-americano, Prémio Pritzker de 1984, em mais uma investigação do New York Times.

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Fred Prouser/Reuters

O atelier de Richard Meier, um dos escritórios de arquitectura mais conhecidos dos Estados Unidos, anunciou que o seu fundador entrou numa licença de seis meses com início imediato. “Estou profundamente perturbado e embaraçado pelos relatos de várias mulheres que foram ofendidas pelas minhas palavras e acções”, lê-se no comunicado de imprensa, que cita o próprio Richard Meier, emitido esta terça-feira pela Richard Meier & Partners Arquitects.

O afastamento temporário foi anunciado pelo atelier depois de o jornal The New York Times ter publicado um artigo em que cinco mulheres acusavam Richard Meier de assédio sexual. O arquitecto, de 83 anos, é autor de edifícios como o Getty Center de Los Angeles e faz parte do círculo restrito de laureados com o Prémio Pritzker.

Quatro das mulheres identificadas pelo jornal norte-americano trabalharam neste atelier fundado em 1963, enquanto outra se cruzou com Richard Meier durante a construção do museu Getty. Duas mulheres queixaram-se de cenas que tiveram lugar nos últimos dez anos, nomeadamente quando o arquitecto se expôs no seu apartamento durante reuniões de trabalho, segundo o relato de uma das vítimas, Alex Zamlich, e vários antigos empregados do atelier. Outra mulher, Laura Trimble Elbogen, disse que Meier lhe pediu para se despir, também no seu apartamento, para ser fotografada. Por último, o mesmo artigo, que identifica todas as mulheres, diz que houve ainda um comportamento impróprio durante uma festa da empresa, com Meier a agarrar a roupa interior de uma colaboradora. Quanto ao caso com uma mulher com quem trabalhou no Getty, a queixa envolve uma insistente tentativa de relações sexuais depois de um convite para uma festa no seu apartamento que se revelou ser afinal um jantar a dois.

O atelier de Richard Meier – que entre os seus nove sócios, ou arquitectos associados, tem apenas uma mulher – chegou a pagar uma indemnização de 150 mil dólares a Alexis Zamlich, que incluía um acordo de confidencialidade. Segundo um antigo empregado, a empresa pôs em prática medidas contra o assédio sexual nomeadamente acções de formação, em que chegou a participar o próprio Richard Meier.

No comunicado agora emitido, Michael Palladino, que ficou responsável pela empresa, defende que o atelier deve ser um lugar seguro para as mulheres: “Nós acreditamos que as mulheres devem sentir-se confortáveis e com poder no seu lugar de trabalho, incluindo no nosso.”

Esta é mais uma das várias investigações sobre assédio sexual realizadas pelo New York Times, que contratou uma editora de género depois do caso Harvey Weinstein, que gerou o movimento MeToo.

Entretanto, a Universidade de Cornell, onde Richard Meier se formou, já revelou que não vai aceitar o apoio financeiro do arquitecto à sua Cátedra de Arquitectura, que está neste momento nas mãos de uma mulher. “Vamos recusar a nova doação para atribuir o nome [de Richard Meier] à Cátedra do Departamento de Arquitectura e cancelámos também o evento da próxima semana destinado a celebrá-la. Vamos ainda reflectir sobre que outras acções podem ser apropriadas relativamente aos apoios para bolsas de alunos e professores já anteriormente doadas à Cornell”, anunciou Kent Kleinman, director do Departamento de Arquitectura daquela universidade, através de um comunicado.

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