Barreiras Duarte ainda é secretário-geral do PSD?

Este é mais um caso de um político a inventar habilitações que não tem, e de um líder partidário que, obrigado a escolher entre um camarada e a verdade, fica com o camarada e sacrifica a verdade.

Qualquer pessoa que se dê ao trabalho de ler a investigação publicada no jornal Sol sobre a relação problemática de Feliciano Barreiras Duarte com a Universidade de Berkeley conclui de imediato duas coisas: 1) o ainda secretário-geral do PSD não se limitou a embelezar o seu currículo – existem suspeitas sérias de que tenha cometido um crime de falsificação de documento; 2) as explicações que deu até ao momento são péssimas, o que significa que deixou de ter quaisquer condições para se manter como secretário-geral dos sociais-democratas. Já ninguém neste país aguenta mais políticos a inventar habilitações que não têm e a passearem um penacho académico obtido de forma fraudulenta. Que Rui “Banho de Ética” Rio não tenha percebido isso é apenas mais uma prova de que a nova forma de estar na política que ele prometeu ao país é extremamente parecida com a antiga.

Feliciano Barreiras Duarte andou anos a apresentar-se como “visiting scholar” de Berkeley sem nunca lá ter posto os pés – é mais ou menos o mesmo que o caro leitor assumir que tem um doutoramento em Oxford após passear pelos seus jardins; recorreu indevidamente a esse estatuto no relatório que acompanhou a sua tese de mestrado; para provar a sua ligação à universidade americana apresentou ao Sol um certificado de Berkeley escrito em português, cheio de linguagem pomposa e de incongruências (o remetente do envelope não coincide com o da carta), cujo conteúdo é considerado falso pela pessoa que supostamente o assina (“estou pronta a declarar em tribunal que esse documento é uma falsificação”, diz a professora de Berkeley), e que terá viajado dos Estados Unidos até Portugal dentro de um envelope americano sem selo nem carimbo. Parece-lhe uma história credível?

A Rui Rio pareceu. Depois desta avalanche de factos muito mal explicados, ele resumiu o caso da seguinte forma: “Há um aspecto do seu currículo que estava a mais, não estava preciso, e ele corrigiu.” Tudo se resume, portanto, a um caso de falta de rigor. E Feliciano Barreiras Duarte, claro está, avançou com a tese da conspiração ao DN: “São notícias para incomodar a direcção do PSD em funções.” Como quem diz: isto foi cozinhado entre Luís Montenegro, Carlos Abreu Amorim e Hugo Soares. “Esta semana”, continuou Feliciano na esteira de John le Carré, “realizaram-se almoços entre algumas pessoas que não gostam da actual liderança. Criaram-se factos. E o corolário foi aquilo que o jornal publicou.” Bravo, Feliciano! José Rodrigues dos Santos já está a tomar apontamentos para o seu próximo romance.

Infelizmente, o secretário-geral do PSD é tão bom a adornar currículos como a inventar conspirações. Sebastião Bugalho, o jornalista que investigou o caso, disse que o confrontou com a informação há mais de duas semanas. A ter de haver uma conspiração seria a favor de Feliciano por parte de quem fez a primeira página do Sol: a manchete era tão simpática para ele – “Secretário-geral de Rui Rio rectifica currículo” – que até serviu de guião para o líder do PSD. Sim, eu sei que Feliciano Barreiras Duarte é colunista do Sol, mas ou se faz jornalismo ou não se faz – “rectifica currículo” é um título patético tendo em conta a gravidade das acusações. Este é mais um caso de um político a inventar habilitações que não tem, e de um líder partidário que, obrigado a escolher entre um camarada e a verdade, fica com o camarada e sacrifica a verdade. Conspiração? A mim soa-me a tradição.

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