Roupa portuguesa, sustentável e a preço justo é com Cristiana — e valeu-lhe um prémio

É portuguesa, feita de excedentes da indústria têxtil e vendida a preço justo. Criada por Cristiana Costa, de 23 anos, a Näz valeu-lhe o segundo lugar no prémio Terre de Femmes 2018.

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Gustavo Galhardo Figueiredo Gustavo Galhardo Figueiredo

Por não pensar que a moda seria apenas feita de agulhas, linhas e tecidos é que Cristiana Costa ganhou 3 mil euros com o segundo lugar no Terre de Femmes, o prémio da Fundação Yves Rocher que distingue, pela 9.ª vez, projectos amigos do ambiente com assinatura no feminino. E tudo graças à Näz, a marca de roupa criada recentemente pela jovem de 23 anos.

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Por não pensar que a moda seria apenas feita de agulhas, linhas e tecidos é que Cristiana Costa ganhou 3 mil euros com o segundo lugar no Terre de Femmes, o prémio da Fundação Yves Rocher que distingue, pela 9.ª vez, projectos amigos do ambiente com assinatura no feminino. E tudo graças à Näz, a marca de roupa criada recentemente pela jovem de 23 anos.

Ainda no mestrado em Design de Moda, na Universidade da Beira Interior, Cristiana depressa tentou arranjar forma de criar roupa que não danificasse o ambiente e fosse colocada à venda no mercado a um preço justo. Tudo de uma vez só. "Se não havia tinha que criar." E arriscou. Depressa compreendeu que "em Portugal não existiam marcas que tivessem esse tipo de preocupações" e quis ser diferente.

Consciente de que iria "fazer parte da segunda indústria mais poluente do mundo", a jovem encontrou uma solução: criar colecções de mulher a partir dos excedentes têxteis provenientes de fábricas nacionais. Mas os excedentes não são coisa pouca? "As pessoas também acham que é um bocado estranho, até que lhes digo que 150 metros é um excedente". E sim, "serve para tudo". Se não servir, procuram-se alternativas e arranjam-se "outros tecidos que sejam semelhantes e se possam adaptar". E tudo isto "cria um sentido de exclusividade", como explica a empreendedora têxtil. E se uma marca quiser repetir a produção de um produto? Torna-se difícil, mas explicando aos clientes "tem sido possível". "Agora estamos a trabalhar com uma linha mais contínua, [para] que seja possível, de facto, voltar a fazer algumas peças (…), mas vamos continuar a trabalhar com excedente."

E os tecidos reciclados vão (também) fazer parte da nova linha — ou melhor, dos novos casacos de Inverno da Näz. Ainda que a jovem tenha chegado de Lisboa uns anos depois, a Covilhã já teve a sua época áurea de produção têxtil à base de lã que, entrentanto, "entrou em decadência". Assim, apostando num mercado no qual "a Covilhã não quer entrar" e fazendo uso de máquinas de lã que já não são usadas, Cristiana Costa quer reactivar e renovar a produção têxtil na Beira Interior. "Enquanto a maioria das marcas vai a um fornecedor, compra um produto e produz vestuário, nós não. Estamos a criar produtos com os nossos fornecedores — e é esta parte mais social, mais colaborativa, que distingue a Näz de outras [marcas]."

Para isso conta com a ajuda de pequenas fábricas "que têm sido um grande apoio" e nas quais Cristiana passou bastante tempo durante o mestrado — sendo que daí provém, também, a preocupação com os operários. "Tive clientes que achavam que o tecido entrava de um lado [da máquina] e saía do outro, já com a roupa feita", conta Cristiana, a rir-se. "[Pensavam] que não havia pessoas no processo." E aqui entra em curso a educação e a consciencialização do consumidor.

A Näz já se vende em 15 lojas

"O que eu gostava mesmo era de estar mais por dentro do mercado nacional e acho que o prémio Terre de Femmes veio ajudar nisso." Mas porque é que os portugueses não são um mercado forte? Devido ao preço. Cristiana Costa explica: quando os portugueses pensam em comprar uma peça mais cara, "automaticamente" consideram tratar-se de uma peça de luxo. Mas existirá mesmo uma relação? Tecnicamente, não. A jovem empreendedora explica que determinado preço advém (ou não) de um "ordenado justo" e que isso, obviamente, terá implicações no custo total das peças de roupa. E aqui surge também o consumo inconsciente característico dos portugueses que, contudo — e para benefício da Näz —, cada vez mais vão adoptando um estilo de vida sustentável. "Há pessoas que têm de compreender que não podem ter 30 ou 40 pares de calças no armário", alerta a jovem.

Mas enquanto Portugal não dá visibilidade ao projecto, lá fora tem sido "mais fácil expandir". Já presente em 15 lojas, com especial enfoque na Alemanha e na Bélgica, a criadora da marca explica que o sucesso do percurso internacional se deve à consciencialização sustentável visível para lá das nossas fronteiras. Ainda assim, afirma, já são algumas as lojas portuguesas que recebem os seus produtos. Anunciando novas parcerias através da sua página de Facebook (uma vez que o site só estará operacional para os finais de Março), a Näz já anda por Lisboa (na Organii Concept, Sapato Verde e nas Galerias de São Bento), pelo Porto (na Cru Cowork) e por Aveiro (no Cais à Porta).

Ainda assim, Cristiana Costa não pára e, já a 22 de Março, vai mesmo apresentar a nova colecção de Verão, na Embaixada Príncipe Real, em Lisboa. E depois? Prevê criar uma colecção de homem, de criança e ainda trabalhar em colaboração com uma marca de calçado.