Parlamento Europeu abre inquérito à promoção de Martin Selmayr

O comité de controlo orçamental vai investigar o processo que conduziu o antigo chefe de gabinete de Jean-Claude Juncker ao lugar de topo da Comissão Europeia.

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Juncker promoveu Martin Selmayr a secretário-geral da Comissão Europeia Reuters/VINCENT KESSLER

O comité de controlo orçamental do Parlamento Europeu abriu um inquérito à promoção ao cargo de secretário-geral da Comissão Europeia de Martin Selmayr, o antigo chefe de gabinete de Jean-Claude Juncker que é conhecido pela alcunha de “monstro do Berlaymont”.

Depois de um acalorado debate com os eurodeputados, no arranque dos trabalhos do plenário em Estrasburgo, o comissário responsável pelas pastas do Orçamento e Recursos Humanos, Günther Oettinger, congratulou-se com a “investigação” do Parlamento Europeu à forma como foi avaliada e aprovada a candidatura de Selmayr ao posto de secretário-geral adjunto, e a sua quase imediata promoção ao cargo de topo, por reforma do antigo titular, o holandês Alexander Italianer, de 61 anos — numa decisão que vários membros do colégio admitiram os deixou surpreendidos.

“Fraude, corrupção, escândalo, intriga, benefício pessoal: estas foram algumas das palavras que ouvi dos senhores eurodeputados. E é por isso que tenho o maior interesse em que seja feita uma investigação objectiva pelo comité de controlo orçamental, para que todas as duvidas sejam esclarecidas”, afirmou o comissário europeu, abalado com a violência das críticas a que foi sujeito no hemiciclo.

A ascensão de Martin Selmayr ao lugar de topo da Administração da Comissão Europeia tem feito correr rios de tinta na imprensa europeia, com críticas ao funcionamento alegadamente opaco da hierarquia do Berlaymont, mas também ataques pessoais a Selmayr, frequentemente descrito como um Maquiavel ou Rasputin.

As garantias de Oettinger de que todos as regras foram respeitadas e de que Martin Selmayr tem todas as qualificações necessárias para o seu novo posto acabaram por ainda enfurecer mais os eurodeputados, que consideram que o “caso” prejudica gravemente a imagem da União Europeia e compromete a legitimidade da Comissão.

Depois de dizer que a nomeação de Selmayr “destrói a credibilidade” da UE, a holandesa da Aliança dos Liberais e Democratas Sophie in’t Veld acusou o comissário alemão de tratar os eurodeputados “como se fossem idiotas”; o francês Pascal Durand, do grupo dos Verdes, disse que “o que vocês fizeram é pior que todos os nacionalismos, eurocepticismos e extremismos”.

Apesar do exagero e violência das críticas, ninguém espera que o Parlamento Europeu recorra à opção nuclear e aprove uma moção de censura ao presidente da Comissão e colégio de comissários. Isso aconteceu em 1999, quando os eurodeputados forçaram a demissão da Comissão presidida por Jacques Santer, por acusações de corrupção.

O comité de controlo orçamental poderá produzir um relatório já na próxima semana: segundo fontes parlamentares, este poderá incluir uma “repreensão” ou “admoestação”. As conclusões do comité serão depois transformadas numa resolução, a votar pelo plenário em Abril.

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