Mike Pompeo, um falcão no mesmo comprimento de onda de Trump

O novo secretário de Estado é muito crítico do acordo nuclear com o Irão e defende técnicas de interrogatório como a simulação de afogamento.

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O falcão Mike Pompeo é o novo responsável pela política externa dos EUA Aaron Bernstein/Reuters

Levado para a política na onda do descontentamento do movimento republicano Tea Party, depois de uma carreira académica e empresarial de sucesso, Mike Pompeo sai da CIA para a gestão da política externa dos EUA. Ganhou visibilidade como congressista enquanto um dos principais críticos de Hillary Clinton, defendeu técnicas de tortura pela CIA, assim como a recolha de comunicações pela NSA, e é considerado um “falcão”.

Durante a presidência de Barack Obama, Pompeo fez muitas críticas ao acordo nuclear com o Irão (tal como Donald Trump). “Estou ansioso por reverter este acordo desastroso com um país que é o Estado que mais patrocina terrorismo no mundo”, disse Pompeo no Twitter, dias depois da vitória de Trump (e dias antes de se saber que seria nomeado director da CIA).

Já à frente da agência de espionagem desvalorizou a interferência da Rússia nas eleições americanas (mas, ao contrário do Presidente Trump, não pôs em causa as conclusões da agência) e também considerou Vladimir Putin um líder perigoso.

O novo secretário de Estado não é, no entanto, um apoiante da primeira hora de Donald Trump. Apoiou o senador da Florida Marco Rubio na corrida para a nomeação republicana e, quando Trump foi escolhido, o seu porta-voz disse que ele apoiaria o candidato republicano “porque Hillary Clinton não pode ser presidente” – sem nunca mencionar o nome de Trump.

No Congresso, um dos seus papéis mais visíveis foi na comissão que investigou o ataque contra instalações diplomáticas americanas em Bengasi, em 2012. A comissão não culpou a então secretária de Estado, Hillary Clinton, pelas consequências do ataque na Líbia. Pompeo lançou um comunicado insistindo na “responsabilidade moral” de Clinton, contrariando a conclusão da comissão, liderada por um republicano, Trey Gowdy. 

Além da grande oposição a Clinton, Pompeo e Trump pareceram ganhar cumplicidade nos briefings de segurança, em que Trump disparava perguntas a Pompeo sobre questões não relacionadas com segurança e sim com outras áreas políticas. “Trabalho já há algum tempo com Mike Pompeo”, disse Trump aos jornalistas no dia em que a escolha foi anunciada. “Energia enorme, intelecto enorme, estamos sempre no mesmo comprimento de onda.”

Pompeo é ainda o que Trump chama “um vencedor”: foi o melhor aluno do seu ano na academia militar em West Point, estudou depois Direito em Harvard, e tornou-se um empresário de sucesso antes de entrar para a política em 2010.

Foi nesse ano que foi eleito para a Câmara dos Representantes pelo Kansas (é natural de Wichita). Na campanha, foram usados cartazes a pedir aos eleitores para “votar americano”. O seu concorrente do Partido Democrata, Raj Goule, era de origem indiana.

Como congressista, sugeriu que alguns líderes muçulmanos poderiam encorajar atentados terroristas: “O silêncio fez destes líderes islâmicos por toda a América potencialmente cúmplices nestas acções”, disse Pompeo após o atentado terrorista na maratona de Boston em 2013.

Também disse que achava que Edward Snowden, que revelou em 2013 a extensão do programa secreto de recolha de informação da NSA e que está desde então na Rússia, deveria ser julgado por ter revelado informação confidencial. “Penso que o resultado adequado [do julgamento] deveria ser a pena de morte” por ter posto uma série de americanos “em risco por causa da informação que roubou e deu a poderes estrangeiros”.

A segurança dos Estados Unidos justifica, para Pompeo, desde estes programas de vigilância – até a de países aliados dos EUA, como a Alemanha – até ao uso de técnicas de tortura como o waterboarding (simulação de afogamento). Os agentes que usaram estas técnicas “não são torturadores, são patriotas”, disse em 2014.

É ainda membro da National Rifle Association (NRA), pró-vida (apenas admite aborto em caso de risco para a saúde da mãe, não de violação ou incesto), e é ainda crítico dos acordos internacionais sobre o clima. Também se opõe a que as empresas de alimentos tenham de indicar ingredientes geneticamente modificados (estas duas últimas, lembra a revista The Nation, são coincidentes com interesses dos irmãos Koch, grandes financiadores da campanha de Pompeo para o Congresso em 2010). 

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