Metropolitan Opera despede maestro James Levine por abuso sexual

O histórico director musical tinha já sido suspenso no final do ano passado. Negou, então, todas as acusações que o inquérito interno que agora chegou ao fim classifica como "credíveis".

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James Levine regressou à Metropolitan como director emérito, depois de se ter aposentado em 2016 Jim Bourg

Depois de uma cuidada investigação interna que durou três meses, a Metropolitan Opera, em Nova Iorque, concluiu que há “provas credíveis” de que James Levine, seu director musical durante 40 anos, abusou sexualmente de jovens músicos.

Levine, um dos maestros mais aclamados do mundo, fora já suspenso no início de Dezembro do ano passado, quando veio a público uma série de acusações que sobre ele pendiam. Nessa altura, e embora negasse veementemente ter tido qualquer comportamento impróprio e fosse um dos protagonistas de vários programas anunciados para a actual temporada, a direcção do prestigiado teatro de ópera nova-iorquino entendeu que a sua presença seria prejudicial ao inquérito em curso, que confiou a uma firma de advogados.

Foi essa firma de advogados que ouviu o staff da instituição e outros intérpretes com quem Levine trabalhou que concluiu agora que o maestro de 74 anos se serviu do seu poder e influência para, ao longo de décadas, abusar de músicos do sexo masculino.

Levine decidira aposentar-se em 2016 por razões de saúde, mas entretanto voltara como director emérito, lembra a britânica BBC.

Num comunicado, a Metropolitan Opera (Met) justifica a sua decisão de despedir o maestro com o facto de a investigação “ter descoberto provas credíveis de que o sr. Levine assediou e abusou sexualmente [de músicos] tanto antes como durante o período em que trabalhou na Met”. O mesmo comunicado citado pelo site da televisão pública britânica e pelos jornais americanos identifica como seus alvos preferenciais “artistas vulneráveis em começo de carreira sobre os quais [o maestro] exercia autoridade ”. “À luz destes acontecimentos”, continua a direcção, “seria inapropriado e impossível o sr. Levine continuar a trabalhar na Met”.

O porta-voz de James Levine disse que, para já, não haverá declarações deste maestro que também dirigiu a Sinfónica de Boston e a Filarmónica de Munique.

A suspensão de James Levine, recorde-se, aconteceu depois de a revista do jornal The New York Times ter publicado um artigo em que três homens descreviam uma série de avanços sexuais do maestro quando eram ainda adolescentes, factos que começavam em 1968 e que terminavam no arranque dos anos 90.

Entre esses homens estava Ashok Pai, que cresceu perto do Festival de Ravinia, dirigido pelo maestro, e que em 2016 contou à polícia do Illinois que Levine começou a abusar sexualmente dele no Verão de 1986, quando tinha apenas 16 anos.

Agora são já quatro os homens que acusam o maestro, sobre o qual recaíam há décadas suspeitas de comportamento abusivo, suspeitas que as direcções da Metropolitan Opera e de outras instituições e festivais aparentemente terão decidido ignorar até aqui.

Não faltava quem defendesse que as denúncias que vinham a lume não tinham fundamento e eram postas a circular por maestros rivais, lembrava o diário britânico The Guardian quando o escândalo envolvendo Levine rebentou, no final do ano passado, naquela que é mais uma onda de choque do caso Weinstein.

No mesmo comunicado em que se dá conta do afastamento do maestro, assegura-se ainda que “a investigação também concluiu que quaisquer alegações e rumores de que a equipa de gestão da Met ou a sua direcção esconderam informação relativa a este assunto [a conduta predatória de Levine] são completamente infundados”.

Recordam os diários The Washington Post e The New York Times (NYT), no entanto, que a direcção tinha conhecimento do inquérito aberto pela polícia do Illinois na sequência das acusações de abuso de Ashok Pai desde 2016 (recebeu uma cópia do relatório das autoridades) e mesmo assim incluiu na sua temporada seguinte vários programas em que Levine dirigia a orquestra. Suspendeu-o, apenas, quando as acusações chegaram às páginas da revista do NYT.

Maestro nega

Levine conduziu a orquestra do teatro de ópera de Nova Iorque em mais de 2500 concertos, incluindo 85 óperas, tendo-se ali estreado em 1971, dirigindo a Tosca, de Puccini (a suspensão impediu-o de voltar a esta obra do compositor italiano esta temporada). Rapidamente elevado à categoria de maestro principal, viria a assumir a direcção musical logo em 1976. Com uma carreira meteórica, dirigiu orquestras nos melhores palcos do mundo e em 1983 fazia a capa da revista Time com o título "O maior maestro da América".

“Como comprovará qualquer pessoa que realmente me conheça, eu não vivi a minha vida como um opressor e um agressor”, disse em Dezembro último James Levine.

No âmbito do inquérito que levou a Met a cessar agora e definitivamente quaisquer laços com o maestro foram feitas mais de 70 entrevistas, escrevem os jornais norte-americanos. Sublinha o Washington Post que a investigação encomendada pela direcção da Met não se cingiu às décadas em que o maestro ali trabalhou e que não vieram ainda a público casos envolvendo músicos da orquestra daquele teatro de ópera.  

O mais recente na imprensa dos Estados Unidos – nas páginas do Boston Globe, mais precisamente – diz respeito a uma espécie de “seita” formada por intérpretes que se submetiam a Levine tanto musical como sexualmente. A influência do maestro sobre estes intérpretes era de tal forma grande que alguns acabaram por se afastar da família e dos amigos.

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