Aqui na Primavera

A Primavera começa quando lhe apetece. Não quer saber das posições dos astros. Tem tanta força que os ventos nada podem contra ela. Apenas quer saber da chuva e do sol.

Já é Primavera para as papoilas que passaram as noites das tempestades a combinar tudo para aparecerem todas ao mesmo tempo. Este ano as primeiras são encarnadas, sozinhas e bem espaçadas. Parecem distribuídas com régua e fio-de-prumo, como postes luminosos à beira da estrada.

A Primavera começa quando lhe apetece. Não quer saber das posições dos astros. Tem tanta força que os ventos nada podem contra ela. Apenas quer saber da chuva e do sol.

Foi o que fizeram as papoilas. Gostaram que tivesse chovido muito – e depois bastou-lhes umas horas de sol. Não admira que chamem milagre à Primavera. Não há outra palavra que esteja à altura dela.

Já é Primavera para os melros desde Fevereiro. Não param quietos e não se importam de ser vistos. Não só perderam a vergonha como agradecem as testemunhas: os grandes amores são para se verem.

Nos pequenos enclaves onde não entraram pesticidas e herbicidas, só meio-escondidos por muros velhos e bons, levantaram-se ecossistemas completos. Os insectos vêm comer as plantas e virar a terra, os passarinhos vêm comer os insectos: não é assim muito difícil de perceber porque precisamos de lagartas – e lagartixas.

As gaivotas praticam desporto nas ventanias, deixando-se ir de asas esticadas, boiando no ar, sem gastar uma única caloria, acumulando preguiças em vez de milhas.

Nas praias os maçaricos, vindos sabe-se lá donde, trabalham sobre carris, passando as espumas a pente fino, à procura de mariscos. Sabem que a época já começou – e que não é nossa.

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