Caldeira Cabral: Resposta de Bruxelas a Trump deve ser "rápida" e "firme"

Ministro da Economia diz que Portugal não sentirá um impacto directo significativo com a revisão das taxas de importação do aço e alumínio para os EUA.

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LUSA/STEPHANIE LECOCQ

É uma guerra que todos os países da União Europeia querem evitar, mas para a qual já começaram a preparar munições. Até porque a “União Europeia tem de rapidamente dar uma resposta” à decisão do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que veio introduzir novas tarifas alfandegárias para a entrada de aço e alumínio no mercado norte-americano, defendeu o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, à margem da reunião do Conselho da Competitividade, esta segunda-feira em Bruxelas.

O decreto de Donald Trump merece o repúdio de todos os líderes europeus, que estão “unidos” e  “determinados” em enviar uma mensagem “firme” de Bruxelas para Washington. “Consideramos que as exportações europeias não põem em causa a segurança nacional de outros países e que por isso estas tarifas impostas pela Administração norte-americana não são justificáveis”, afirmou o ministro português da Economia, acrescentando que, como já foi anunciado pela Comissão Europeia, estão a ser estudadas “uma série de medidas de salvaguarda, em diferentes frentes”.

Essas medidas passam pela denúncia dos Estados Unidos ao tribunal da Organização Mundial de Comércio, e incluem a aplicação, pela União Europeia, de novas tarifas de importação a dezenas de famosos produtos “made in USA”— desde motorizadas a calças de ganga e t-shirts, passando por outros artigos típicos do cabaz norte-americano como tabaco, sumos de fruta, bourbon e manteiga de amendoim.

“Não se trata de retaliar ou alimentar guerras de comércio, em que todos perdem a começar pelos cidadãos norte-americanos”, frisou Caldeira Cabral. “Mas a União Europeia não pode deixar passar estas medidas totalmente arbitrárias, nem permitir que haja uma evolução em que se comece a pôr em causa a tradição que vem desde a Segunda Guerra Mundial de abertura ao comércio e não imposição de tarifas”, considerou.

À entrada para a reunião do Eurogrupo, o ministro alemão das Finanças, Peter Altmaier, que na quarta-feira muda de posto passando a assegurar a pasta da Economia do novo Governo de coligação, sublinhou que a abertura do comércio entre os EUA e a Europa, com regras justas e tarifas baixas, não só “é do interesse de todos” como “é uma responsabilidade de todos”. Por isso, disse, prosseguirão os contactos e as discussões, entre os parceiros europeus e norte-americanos, para assegurar que esse é o quadro em que o relacionamento entre os dois blocos se mantém.

Embora para já os ministros europeus resistam a falar em escalada, a retórica endureceu significativamente nos últimos dias. “Não gosto de guerras. Mas temos de estar preparados com contra-medidas se se confirmar que existe demasiada agressividade do outro lado”, declarou o comissário europeu da Economia, Pierre Moscovici.

Exportações em alta

O ministro da Economia não espera que as medidas anunciadas por Trump tenham um “impacto directo muito significativo” em Portugal. No entanto, Caldeira Cabral não deixa de assinalar que uma evolução desta postura proteccionista “será muito negativa para a União Europeia”. “O que devemos enfatizar é que o comércio é bom para os dois lados do Atlântico, e que foram as regras do multilateralismo que contribuíram para o desenvolvimento dos Estados Unidos, da União Europeia e estão a contribuir para o crescimento a nível mundial”, afirmou.

A propósito de crescimento, Caldeira Cabral realçou o desempenho das exportações portuguesas, que em Janeiro registaram um aumento 9,6%, acima dos últimos três trimestres. “Foi uma aceleração muito forte”, disse o ministro, que destacou a prestação dos sectores automóvel e de componentes automóveis, bem como do agro-alimentar (com um aumento de 15,6%) e das máquinas, que cresceram mais de 10% face a igual período do ano passado.

“As exportações portuguesas continuam a mostrar-se muito competitivas e a crescer”, assinalou, o que considerou um sinal de que o ciclo positivo que o país está a atravessar em termos de crescimento económico também se deve ao “bom momento em termos de competitividade da economia e das exportações”.

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