Onde está a herança de Paulo Portas?

Na short-list de possíveis líderes eleitos pelo antigo presidente do CDS há quem veja, em quase todos eles, um apagamento nos últimos dois anos. O líder da JP é a surpresa apontada.

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Portas apontou Cristas e Melo como possíveis sucessores Martin Henrik
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Assunção Cristas é hoje a líder do CDS LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Pouco tempo antes de se despedir da liderança do CDS, Paulo Portas apontou vários nomes a ter em conta no futuro do partido. Entre eles estava o de Assunção Cristas que acabaria por lhe suceder. Dois anos depois dessa “transição pacífica” que o ex-líder sublinhava, a pergunta é saber onde estão os herdeiros e até o legado do portismo. Para alguns – como o crítico Raul Almeida – a descolagem de Cristas a Portas foi total, para outros, mais próximos, o portismo continua, mas a líder deu-lhe um “cunho” pessoal.

Quando já se sabia que a discussão pela liderança do partido se iria abrir, em Dezembro de 2015, Portas indicou uma short-list de possíveis líderes ou de figuras incontornáveis no partido, que já tinha tido o cuidado de elogiar durante a campanha eleitoral de Outubro desse ano. Na linha da frente, Nuno Melo (eurodeputado) e Assunção Cristas. No Conselho Nacional em que fez esse exercício de futurismo, Portas também referiu nomes como Telmo Correia (presidente do Conselho Nacional), Pedro Mota Soares (deputado), Nuno Magalhães (líder parlamentar), João Almeida (porta-voz), Adolfo Mesquita Nunes e Cecília Meireles (que se tornaram vices de Cristas) e Filipe Anacoreta Correia (seu crítico interno nessa altura). A preocupação era a de união: “todos vão precisar de todos”.

Entre os dois nomes da linha da frente, foi Cristas que avançou e ganhou o partido, com a bênção de Paulo Portas: a “safe pair of hands” (em boas mãos), disse.

Na leitura de Pedro Pestana Bastos, membro da comissão política nacional, a pacificação foi conseguida. “Cristas passou com distinção o teste da sucessão de Portas, o que é dificílimo”, afirmou o advogado que fazia parte do movimento Alternativa e Responsabilidade. O movimento era crítico da liderança de Paulo Portas, mas este líder já tinha proposto que Pestana Bastos integrasse a sua comissão política nacional em 2011.

Apesar de Cristas ter mantido a mesma classe dirigente da era de Portas, Pedro Pestana Bastos considera que os herdeiros então apontados “hoje em dia não são vistos como putativos sucessores”. Só vê duas pessoas numa futura pole-position: Nuno Melo e Francisco Rodrigues dos Santos, líder da Juventude Popular (JP). O vice-presidente do partido é, dos “últimos herdeiros do portismo, o único que tem capacidade e peso para suceder” a Cristas, numa futura disputa eleitoral. Já Francisco Rodrigues dos Santos era uma “figura inexistente no CDS há dois anos”, mas Pestana Bastos reconhece-lhe “o percurso, a ambição e capacidade”. Os 30 anos parecem não assustar quem admira o percurso do líder da JP: “Monteiro foi líder aos 29, Portas com 35 anos.”

Francisco Rodrigues dos Santos e um outro vice-presidente do CDS – Adolfo Mesquita Nunes – são os dois protagonistas que Raul Almeida vê como “presidenciáveis” (para a presidência do CDS, entenda-se) no pós-Cristas, mesmo estando em “polos doutrinários diferentes”. O ex-deputado, que tem assumido uma postura crítica da actual liderança, considera que a líder conseguiu “com sucesso superar uma série de barreiras em Lisboa, mas também “em condições que Portas não teve”. Mas o portismo “é coisa do passado”, advoga o antigo deputado que, tal como Portas, também era eleito por Aveiro.

Entrando no partido pela mão de Paulo Portas há 10 anos, Cristas descolou dessa liderança de 16 anos do partido: “Apesar de ser uma criação de Paulo Portas, conseguiu emanecipar-se e desligar-se do portismo. Faz repetidamente uma demarcação em entrevistas e acções.”

Raul Almeida – que se assume como portista – partilha a ideia de que os herdeiros, dois anos depois, se “encontram sem discurso ou a reproduzir o discurso da líder na Assembleia da República” e que “não são alternativas a Cristas, mas sim seus sucedâneos”.

Leitura contrária tem Nuno Magalhães, líder parlamentar há seis anos. “Assunção não quis descolar do portismo, mas deu-lhe um cunho pessoal”, defendeu. Uma posição que o ex-secretário de Estado dos governos PSD/CDS de Barroso e Santana justifica com os temas: “O CDS continua a falar das questões que são suas como a segurança, a lavoura e as PME, o mérito e a educação e a saúde. Passou também a falar de temas que têm mais a ver com ela, como a demografia e as florestas”.

Defendendo que “o portismo é bom” e que “deu bons resultados”, Nuno Magalhães remata com uma nota de humor: “Je suis portista”.

Para Filipe Anacoreta Correia, que era porta-voz do movimento interno Alternativa e Responsabilidade, Assunção Cristas “distanciou-se” do portismo. “Se me pergunta se houve a renovação necessária, acho que não. Ela apoia-se muito na equipa”, afirma o deputado que foi crítico de Paulo Portas e que, por coincidência, entrou no Parlamento para o lugar do ex-líder. Filipe Anacoreta Correia lembra que Cristas “vem do portismo, trabalha com o portismo mas ela traz uma vivência e uma pertença muito para lá com a vida partidária”. 

Dois anos depois de ter sido eleita no congresso de Gondomar, Cristas conseguiu um resultado histórico em Lisboa. Muitos – quase todos os seus apoiantes e próximos – reconhecem que ela faz política de forma diferente do seu antecessor. Não faz como “vem nos livros”, comentava um dirigente. Mas – avisam – isso não significa menos sucesso. Pelo contrário: a sua imagem empática e proximidade às pessoas está a ser vista como uma mais-valia.  

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