Rocket Man

Washington mostrou força e firmeza, Pequim perdeu a paciência e Pyongyang acalmou, aceitando finalmente negociar.

Há uns meses, no pico da escalada de tensão entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, Donald Trump chamou a Kim Jong-un “Little Rocket Man”, uma alusão simultânea à sua estatura física e à pequenez do seu arsenal nuclear. Lembrei-me na altura – como creio que aconteceu com muitos – da célebre música de Elton John, que diz a certa altura: “Vai demorar muito, muito tempo/Até que aterrar me volte a fazer perceber/Que não sou o homem que em casa pensam que sou/Ah, não, não, não/Sou um astronauta/Desorientado aqui em cima sozinho”.

Por um tempo parecia que estava em curso uma estratégia irracional de confronto entre Washington e Pyongyang que, num extremo, podia acabar numa guerra entre os dois países, com vários milhares de mortos. Os líderes norte-americano e norte-coreano aparentavam estar desorientados, subindo a parada em cada jogada, até que, mesmo sem ser essa a sua vontade, ficassem sem espaço para recuar. Afinal de contas, o problema do programa nuclear da Coreia do Norte não era nada novo e desde o imediato pós-Guerra Fria que se tentava resolvê-lo por via diplomática, tendo as negociações dado em zero. De aspirante a potência nuclear no início do processo o país de Kim Jong-un ascendeu à condição de potência nuclear de facto, ou pertíssimo disso.

Não é coisa pouca. Como diz, e bem, quer a estratégia de segurança nacional, quer a estratégia de defesa nacional dos EUA, ambas muito recentemente aprovadas, uma das ameaças mais graves à segurança norte-americana, bem como à internacional, reside nas potências párias com capacidade nuclear ou com ambição a tal. É o caso da Coreia do Norte que, como referem os mesmos documentos, desenvolve há mais de 25 anos um programa de armas nucleares e de mísseis balísticos desafiando todos os compromissos que assumiu e as normas e leis internacionais.

Em Washington fizeram-se os cenários. Persistir na via diplomática, negociando com Pyongyang, a dois ou com mais Estados. Ou endurecer significativamente o regime de sanções. Ou colocar um escudo anti-míssil balístico na Coreia do Sul. Ou colocar armas nucleares norte-americanas em Seul e Tóquio. Ou optar pela via militar. Uma coisa ficou logo clara, tal como Donald Trump avisou através do twitter: “A Coreia do Norte afirmou que está na fase final do desenvolvimento de uma arma nuclear capaz de atingir partes dos EUA. Não vai acontecer!”

Ao contrário do que muitos pensaram a um dado momento, o 45.º Presidente dos EUA não estava a preparar-se para um confronto militar com a Coreia do Norte, nem mesmo a falar com Kim Jong-un. Estava a mostrar músculo, ou seja, a enorme superioridade de poder da América, precisamente para não ter de usá-lo e resolver o problema por via diplomática. E falava com Xi Jinping. Trump percebeu que a solução residia na China – ela que pusesse os seus clientes norte-coreanos na ordem.

Parece que Donald Trump tinha razão. Washington mostrou força e firmeza, Pequim perdeu a paciência e Pyongyang acalmou, aceitando finalmente negociar. Afinal, pelo menos neste caso, o Presidente norte-americano não foi como o astronauta de Elton John. Lá em cima, sozinho, não estava desorientado. Estava orientado e bem.   

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