Com a Amazon Fresh o room service ganha um novo sentido

Quer queiramos quer não (e eu até quero), a Amazon mudou para melhor a maneira de viver das pessoas que tinham de comprar tudo em lojas. Poupou-nos tempo e dinheiro: dois dos bens mais preciosos de que dispomos.

O êxito da Amazon trouxe azar e morte a muitas dessas lojas. Como é que podemos ajudá-las a sobreviver? Uma das maneiras mais óbvias é colaborar com a Amazon — pelo menos até arranjar maneira de derrotá-la.

Em Londres, a Amazon inaugurou recentemente a Amazon Fresh. Estive lá uma semana a pô-la à prova. Na teoria pode-se encomendar tudo o que se vende num supermercado e, passadas duas horas, recebe-se em casa.

Estávamos num hotel que não só não se importa com estas encomendas como as encoraja (o Cavendish). Isto faz com que, sem se sair do quarto, se disponha dum room service monumental.

O Cavendish fica na zona mais cara de Londres. Mas, graças ao Amazon Fresh e à concorrente principal, a Ocado, isso já não quer dizer que se esteja condenado a pagar os preços altos que se praticam na vizinhança. Mandando vir as coisas, elas pagam-se ao preço baixo das áreas de onde provêm.

Este aspecto é importantíssimo. Ficando numa zona cara, todos os restaurantes dessa zona, por causa das rendas exorbitantes, têm de ser caros também. Se quisermos ir a restaurantes mais baratos temos de pagar o preço elevado dos transportes.

Usando serviços de encomenda (que são gratuitos caso se gaste mais de 40 libras/48 euros), pode-se gozar de uma estada em Londres por uma pequena fracção do que custaria.

Em Londres, gastronomicamente falando, as melhores iguarias compram-se em supermercados. Em frente ao Cavendish, por exemplo, está o melhor de todos: o Fortnum & Mason. Por exemplo: o salmão fumado (da H.Forman & Son), o fiambre, o Steak and Kidney Pie, o Pork Pie, o Roast Beef e o Salt Beef, os queijos britânicos, os queijos e vinhos franceses.

Há restaurantes bons em Londres mas não são muito bons e são caríssimos. Daí ter feito a experiência de fazer refeições no quarto ou, quando o tempo permite, num jardim.

Vou começar pelo principal defeito da Amazon Fresh. Embora declare que leva duas horas a levar tudo das 9h até às 23h, a verdade é que só consegue este feito durante algumas, poucas, horas do dia. A partir das 19h é quase impossível.

A teoria é simples. A Amazon chegou a acordo com a cadeia Morrisons. A Morrisons arranja tudo numa hora e a Amazon leva mais uma hora para fazer a entrega.

Como nunca se sabe quais são os horários de entrega que vão ser cumpridos, é preciso ter o cuidado de fazer os pedidos às horas do expediente. É impossível, por exemplo, fazer um pedido às 21h para as 23h.

É preciso, por isso, estudar o horário das entregas — um trabalho que não é propriamente divertido. Uma descrição mais honesta do serviço seria: certas encomendas serão entregues duas horas depois. A grande maioria fica para a manhã seguinte.

No dia em que chegámos, encomendámos um forno eléctrico (por 20 libras), um steak and kidney pie, mostarda e vinho. Ligámos o forno e, passados 20 minutos, estávamos a comer um delicioso pie por cerca de 4 libras — um custo impossivelmente baixo.

Isso traz-me à principal vantagem da Amazon Fresh: os preços são baixos e a escolha é vasta. Não se paga nada pelo privilégio de receber tudo em duas horas. Por outro lado, a Amazon Fresh só oferece entregas nas moradas mais centrais de Londres. No fundo, só leva as compras às zonas mais caras da cidade, onde os clientes com mais dinheiro conseguirão poupar mais dinheiro. É, por isso, um serviço descaradamente para os ricos.

Para comparar com a Amazon Fresh, fiz duas encomendas através da Ocado e cheguei à conclusão que a Ocado é bastante melhor. Não é tão rápida mas é mais previsível e oferece muitos descontos, tornando a entrega grátis, mesmo para encomendas mais pequenas.

Concluindo: a Amazon Fresh ainda está na infância mas está no bom caminho. Não conseguiria este serviço sem a colaboração de um bom supermercado. De que é que os supermercados estão à espera?

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