Continental Technik Forum 2018: soluções de mobilidade bem fresquinhas

A edição anual do Continental Technik Forum, onde a empresa apresenta as suas mais recentes descobertas, decorreu nas regiões geladas do Norte da Suécia, pelo que se pode dizer que são frescas as novidades apresentadas.

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A Continental é uma das empresas líderes não só em pneus mas em sistemas de assistência ao condutor e para condução autónoma (sem intervenção humana), tendo como lema Vision Zero – um futuro sem acidentes automóveis. Este ano, o Technik Forum, evento onde mostra as suas mais recentes soluções de mobilidade, decorreu no Norte da Suécia, em Östersund e Arvidsjaur, na Lapónia, onde muitas empresas do sector automóvel, Continental incluída, testam os seus produtos em temperaturas negativas extremas.

Vision Zero goes North (Visão Zero vai ao Norte) foi o título da edição 2018 do Continental Technik Forum e, em conformidade com a localização do evento, foram apresentados novos pneus de Inverno: WinterContact TS 860 S, para desportivos e potentes limusinas, e índices de velocidade até W (270 km/h!); Viking Contact 7, para condições ainda mais extremas, mas que permite circular até 190 km/h. Também foi mostrada uma tecnologia inovadora que substitui os pregos que se aplicam nos pneus para aderirem em neve e gelo por espigões de borracha com cabeça de alumínio incorporados no pneu, que, além de melhorarem a guiabilidade, causam menos danos no piso da estrada. Porém, a menos que advenha uma nova Idade do Gelo, estas novidades não são adequadas para Portugal, um dos poucos países europeus onde só se utilizam pneus de Verão todo o ano (embora nas zonas montanhosas do Norte de Portugal, onde ocorre neve e gelo, fosse aconselhável equipar os veículos com os chamados pneus para todas as estações).

Os pneus “inteligentes”

Ainda no âmbito dos pneus foram apresentadas duas tecnologias para o futuro: ContiSense e ContiAdapt. ContiSense, prevista para comercializar num prazo de cinco anos, consiste em borracha condutora incorporada na banda de rodagem do pneu que transmite sinais eléctricos para um sensor no pneu que monitoriza continuamente o desgaste, a temperatura e a pressão do pneu, bem como a ocorrência de furos, o estado da estrada e a existência de água, neve ou gelo. ContiAdapt, num prazo de 10 anos, combina microcompressores integrados na roda que ajustam instantaneamente a pressão do pneu às condições ideais de circulação (piso seco, molhado, escorregadio ou irregular), aumentando ou diminuindo a área de contacto do pneu com o solo.

As outras soluções de mobilidade

Rumo a um futuro sem acidentes e à condução autónoma, a Continental apresentou outras novidades como o ABS3, a última geração do sistema antibloqueio de rodas, que irá equipar o futuro Volkswagen Golf VIII. Nos testes de pista efectuados, provou-se a vantagem deste sistema em relação ao actual ABS2.

Outra inovação foi uma suspensão electrónica pneumática “inteligente”, CAirS, mais leve e com mais funcionalidades, capaz de se adaptar instantaneamente às condições de condução e piso, adequada a veículos eléctricos e à condução autónoma.

Também visando a condução autónoma foi apresentado o MK C1 HAD, um sistema de travagem redundante que dispensa a acção do condutor.

Outro dos conceitos apresentados foi a integração dos sistemas de segurança activa e passiva (segurança cooperativa), bem como dos actuais e futuros sistemas de assistência à condução e a interacção e partilha de informações entre os veículos e a rede, tendo como objectivo final a automatização da circulação rodoviária.

Claro que, estando os veículos conectados, partilhando e recebendo informações, há sempre o perigo de ataques informáticos. Também a prever essas ocorrências, a Continental tem um departamento de cibernética que estuda a forma de antecipar e prevenir esses ataques.

Condução autónoma sobre o gelo

Considera-se que, para uma condução autónoma, as vias devem estar bem sinalizadas, para que o veículo possa ler e interpretar os sinais de trânsito e as marcas na estrada. A negar essa suposta condição essencial, os participantes do Technik Forum fizeram como meros passageiros um percurso num trilho florestal sinuoso sobre neve e gelo, sem qualquer sinalização, com o carro sozinho a acelerar, abrandar e descrever as curvas. Os técnicos da Continental revelaram que o veículo tinha feito o percurso previamente e memorizado as suas particularidades, mas que, no futuro, com a partilha de informações, será possível a uma viatura circular de forma automática numa qualquer via, graças aos dados recebidos da “nuvem”.

Östersund e Arvidsjaur

Nos dias do evento, o tempo esteve tão bonito como gélido. Como “aperitivo”, ficámos no primeiro dia no Quality Hotel Frösö em Östersund, cidade no Centro da Suécia que recentemente foi notícia por ser sede de um clube de futebol que bateu o pé ao Arsenal na Liga Europa. Aí decorreu a apresentação teórica. À noite, com -13ºC, os participantes eram convidados a esculpir um copo num bloco de gelo, para beber cerveja, antes do jantar, cujo prato principal era um delicioso lombo de rena. Sorte pior tiveram os fumadores — na Suécia não é permitido fumar em espaços públicos fechados, pelo que quem quisesse matar o vício tinha que suportar o gelo da noite.

Com este “treino” prévio, o embate principal decorreu em Arvidsjaur, 450 quilómetros mais a norte (a 4700km de Lisboa ou do Porto), em plena Lapónia, a 100km do Círculo Polar Árctico. Aí a temperatura às nove da manhã eram -28º C (a meio do dia “aqueceu” para -13º C). Note-se, porém, que, graças ao frio extremo, não havia humidade no ar e com sol, céu azul e a ausência de vento estava um dia radioso. Foi aí que se efectuaram as sessões de condução em neve e gelo. O prato principal do almoço no Laponia Hotel foi alce. Naquelas paragens geladas, as vacas, porcos ou ovelhas morreriam, pelo que o gado são renas, complementadas com a caça aos alces. Quanto a vegetação, no Inverno, apenas resiste o pinheiro nórdico, neste deserto branco onde se pode andar cem quilómetros sem ver vivalma.

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