Co-fundador do Facebook diz que algoritmos são maus para a política

Chris Hughes ajudou Zuckerberg a fundar a rede social. Agora considera que a plataforma se aproxima de uma empresa de media e que isso é um perigo para a democracia.

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Em 2008, Chris Hughes ficou conhecido como "o miúdo que pôs Obama na Casa Branca" Reuters/Adam Hunger

Chris Hughes, um dos co-fundadores do Facebook, não acredita na imparcialidade dos algoritmos. Nem nos seus benefícios para a política. “Os algoritmos não são neutros”, frisou numa conferência promovida pela Bloomberg, esta semana, onde falou sobre o seu mais recente livro Fair Shot, em que reflecte sobre a igualdade de oportunidades nos EUA. “Em certos momentos, o Facebook desempenhou um papel negativo no discurso político", diz Hughes.

Era algo que não previa há dez anos quando era conhecido como “o miúdo que pôs Obama na Casa Branca”, e Donald Trump ainda estava muito longe de se tornar político ou presidente. No final de 2007, aos 25 anos, Hughes deixou a rede social para trabalhar na estratégia de novos media da campanha de Barack Obama. Foi o seu sucesso que mostrou o potencial das redes sociais para chegar directamente a camadas da população menos activas na vida política do país.

Até ali, como o mais extrovertido dos fundadores do Facebook, Hughes tinha sido responsável por promover a plataforma na imprensa e desenvolver a experiência dos utilizadores no site. Zuckerberg dizia que ele era a "empatia" do grupo. Desde então, porém, o Facebook mudou muito. Embora Hughes ainda use a plataforma para partilhar fotografias do seu bebé com a família, o norte-americano acha que o site já não é apenas uma rede social. Aproxima-se de uma empresa de media. Com mais de 1,9 mil milhões de utilizadores activos, a rede social já é a maior empresa a reunir publicações noticiosas. 

Mas não foi só o Facebook a mudar. Hughes também é menos idealista. Em 2012 comprou a revista americana New Republic, para tentar dar uma nova visão à publicação centenária, mas falhou. Quatro anos mais tarde estava a vendê-la. Percebeu que fazer jornalismo de qualidade na Internet, e competir, ao mesmo tempo, pela atenção das pessoas nas redes sociais, não é tarefa fácil. Hoje, acredita ue para resolver o “problema da Rússia” e as “bolhas de conteúdo” as redes sociais têm de reconhecer a responsabilidade que têm com algoritmos que determinam, até certo ponto, o tipo de conteúdo que cada pessoa vê. O ano passado, a equipa do Facebook descobriu que, entre 2015 e Maio de 2017, milhares de anúncios divulgavam informação falsa sobre temas como a imigração e os direitos humanos. Muitos tinham origem na Rússia.

Apesar das críticas, Hughes reconhece que o passado no Facebook o empurrou para onde está. No seu novo livro, teoriza que a falta de igualdade de oportunidades no país poderia ser resolvida se o 1% da população que ganha mais pagasse o salário da classe trabalhadora. Hughes diz que faz parte dessa percentagem, pelo seu trabalho, mas, também, por muita sorte. O norte-americano nasceu e cresceu numa pequena cidade do Carolina do Norte, EUA, numa família modesta, mas conseguiu ganhar uma bolsa de estudo para um internato prestigiado na região e, mais tarde, outra que o levou até Harvard. Lá, encontrou Mark Zuckerberg como colega de quarto – e o resto é história.

Hughes acredita que Zuckerbeg está a entrar novamente no rumo certo, depois de ter percebido o poder do Facebook nas eleições norte-americanas em 2016. “O Facebook está finalmente a reconhecer o papel que tem no discurso público”, diz Hughes. “Mas foram um pouco lentos”, acrescenta. Afinal, o papel das redes sociais como veículo de informação política já tinha sido mostrado em 2008, com a campanha digital de Obama. Na altura, porém, o papel dos algoritmos era menor.

Actualmente, os algoritmos de grandes empresas como o Facebook, mas também o Google e o Twitter, têm a capacidade de analisar enormes quantidades de dados dos utilizadores para perceber qual o tipo de notícias ou publicidade que lhes vai despertar a atenção. Hughes diz que o Facebook tem de adaptar os seus algoritmos e a sua plataforma para garantir que não se pode “comprar anúncios falsos ou notícias falsas.” 

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