Marcelo acredita que “contaminou” Costa, tornando-o num “optimista” mais “conservador”

Presidente da República diz que vai manter o mesmo estilo presidencial e, como prova disso, mostrou-se “optimista-realista” e acabou a fazer um pré-anúncio de um investimento do Governo nos portos. Marcelo deixa cinco desafios para o seu terceiro ano.

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LUSA/MÁRIO CRUZ
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Na dualidade entre a “frieza das avaliações” e o “calor dos afectos”, Marcelo Rebelo de Sousa faz um balanço de “júbilo” e de “tragédia” deste seu segundo ano de mandato. O Presidente da República, que esta sexta-feira apresentou o livro sobre o seu segundo ano, com imagens de fotojornalistas de vários meios de comunicação, acredita que continua a ser um “optimista-realista” e que outros – leia-se, o primeiro-ministro – passaram a ser mais “conservadores”. Nesta sua realidade, que deambula entre os sucessos e as “calamidades”, Marcelo deixou cinco desafios para o ano que agora começa, fazendo um pedido aos partidos: que se entendam até ao final do ano na descentralização de competências para os municípios, porque “não basta atirar poderes às autarquias”.

Numa conversa de 40 minutos com os jornalistas, Marcelo – que confessou ser mais fã de imagens do que de discursos, razão pela qual optou por fotografias para ilustrar o seu segundo ano de mandato em vez de uma colectânea de discursos, como faziam os seus antecessores - disse que escolheria como momento político do ano que passou “a evolução das finanças e da economia”. Mas isso seria difícil de ilustrar e ainda mais difícil seria explicar uma fotografia do ministro Mário Centeno numa capa de um livro da Presidência. Colocou, por isso, o Papa, mas não foge ao tema e admite que a evolução da economia, que culminou ou teve a sua expressão na eleição de Mário Centeno para o Eurogrupo, “foi o grande sucesso deste ano, que ultrapassou” as suas expectativas, referiu.

Para o ano, espera o mesmo: que a economia continue a superar as metas, sempre numa base de “optimismo-realismo”. E foi aqui que decidiu fazer duas coisas: dar a entender que o primeiro-ministro se tornou mais comedido, senão mesmo conservador; e pré-anunciar medidas importantes por parte do Governo.

Sem nunca dizer o nome de António Costa, Marcelo disse ter notado com “alegria” que “contaminou alguns optimistas” que “achava que eram menos realistas”. “Também preferem agora previsões mais conservadoras”, disse, negando, depois, estar a atribuir rótulos a políticos.

Depois, deu a entender que, se os números do ano passado são bons, os deste ano podem vir a ser melhores – e ainda sem contabilizar as boas notícias que estão para a aparecer, nomeadamente o anúncio de “grandes, grandes decisões em relação à área portuária ou de grandes infra-estruturas”. Quais? Apesar de deixar a dica no ar, o Presidente vai permitir que seja o Governo a fazer o anúncio.

Marcelo, que em Outubro escolheu como desígnio para o resto do seu mandato garantir uma resposta às tragédias que assolaram o país, entregou um novo caderno de encargos, que traduziu em desafios, para o terceiro ano em Belém.

Em primeiro lugar o desafio externo: “A necessidade de a União Europeia ultrapassar o compasso de espera em que está com várias eleições no último ano e com a saída do Reino Unido”.

Em segundo, o alerta para a necessidade de “se tirarem lições do nosso passado”. E, aqui, não o Presidente não está a contabilizar apenas a lição das “tragédias”, mas o facto de continuarmos a ser um país em que existe muita “desigualdade”. Marcelo lembrou que, sendo assim, é preciso que não se regresse a políticas passadas que levem o país a cometer os mesmos erros.

Como terceiro desafio, Marcelo Rebelo de Sousa salienta “a importância de crescer” porque apenas com um crescimento forte é possível “convergir” com os outros países da União Europeia.

Como quarto desígnio, o Presidente apela ao “empenhamento de todos no reforço da credibilidade das instituições” e reconhece que aqui tem um papel importante a desempenhar. “É essencial o reforço da democracia para não dar espaço ao populismo”. Mais tarde, o Presidente reforçaria a ideia de que, apesar de o criticarem por estar em todo o lado, o faz “conscientemente”.

“O facto de intervir muito não significa que não seja tudo pensado”. “Muitas vezes”, acrescentou - e note-se o sublinhado - “com pretensão preventiva”. “Antes que algo se converta numa bola de neve, mais vale não deixar que cresça e intervir rapidamente”, explicou. Mas em que circunstâncias isso aconteceu? O Presidente não quis especificar, admitindo apenas: “[Quando houve] um risco de descolagem em relação aos políticos, fui, se quiserem, mais incisivo para que não houvesse abertura a riscos populistas”.

Marcelo segue-se pela máxima de que os espaços vazios são sempre ocupados e por isso repetiu a ideia em vários momentos, sobretudo quando questionado sobre o que se passa, afinal, na oposição e se ele, enquanto social-democrata, não terá a tentação de intervir. Negou-o, disse que se cingia aos poderes da Constituição, e defendeu o seu papel: “O Presidente quer estabilidade. Vai lutar pela estabilidade. O Presidente quer uma área de governação forte. Lutará por uma área de governação forte. O Presidente quer melhor oposição. Lutará por melhor oposição”, porque, referiu depois, “não pode haver buracos vazios nem na área da governação nem na oposição. Isso foi o que aconteceu na Europa e é isso que temos de prevenir”.

Por fim, o quinto e último desafio deixado pelo Presidente: é preciso que haja “um efectivo diálogo entre o maior número de partidos” em alguns temas importantes. Na prática, Marcelo pede que os partidos se entendam em matérias-chave e que deixem as salutares clivagens para outras paragens. E foi aqui que referiu os quatro temas a ter em atenção: “a defesa dos interesses de Portugal no quadro plurianual” que se avizinha - e sobre isso já teve sinais positivos com a comissão parlamentar constituída a pedido do PS para chamar o PSD a este assunto -; a união na “resposta às calamidades”; a “correcção das desigualdades”; e a “descentralização”.

Sobre este último ponto é importante para o Presidente que os partidos encontrem uma solução, mesmo que minimalista, “até ao final do ano”, para que tudo se discuta antes do período eleitoral. “Este é um bom momento para descentralizar porque estamos a crescer”, disse.

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