Ministro da Cultura diz que declarações de directora regional não têm a gravidade atribuída

Celeste Amaro elogiou a companhia teatral Leirena Teatro por não "incomodar" a administração central com pedidos de apoio, declarações que geraram reacções de indignação, havendo até quem pedisse a sua demissão.

Foto
O ministro da Cultura diz que o caso será analisado "com a maior atenção" e que a directora será ouvida Miguel Manso

O ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, disse, nesta sexta-feira, que as declarações da directora regional da Cultura do Centro, Celeste Amaro, não têm "a gravidade que lhes estão a atribuir". "As declarações da senhora directora, feitas num contexto que não era propriamente público, e como as explica, não me parece terem a gravidade que lhes estão a atribuir", afirmou à Lusa o governante, à margem da inauguração da exposição Joan Miró: Materialidade e Metamorfose — no Palácio Zabarella, da Fondazione Bano, na cidade italiana de Pádua —, a partir da colecção do Estado, trabalhada por Serralves.

O ministro fazia referência às palavras de Celeste Amaro, na apresentação da programação da companhia Leirena Teatro, em Leiria, na passada sexta-feira, em que elogiou o grupo por não ter pedido apoio do Estado, o que já motivou um requerimento do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista Português ao Ministério da Cultura, e uma exigência de demissão por parte de vários artistas da região.

"Como é possível? Ainda por cima na área do teatro. Foi algo que me tocou bastante. É uma lição de como um grupo de teatro profissional, com três actores, que se dedica de corpo e alma ao seu trabalho, vive sem pedir dinheiro, não incomoda a administração central", comentou, na ocasião, a directora. "A senhora directora da Cultura do Centro teve oportunidade de esclarecer o alcance das declarações que fez, num contexto que, penso, não seria propriamente público, mas são declarações que fez", explicou o ministro.

Segundo Castro Mendes, Celeste Amaro explicou que as declarações "tinham como objectivo elogiar a capacidade da organização do teatro leiriense em poder ter feito aquelas realizações sem recorrer a subsídios", e que "não era intenção [sua] pôr em causa a política do Governo nem os outros artistas que precisam de subsídios".

"O próprio teatro veio esclarecer que também iria concorrer a subsídios da Direcção-Geral das Artes. O que a directora quis foi elogiar a capacidade do Leirena Teatro em conseguir, com todas as dificuldades, obter financiamentos. E financiamentos autárquicos também são financiamentos públicos", acrescentou.

Celeste Amaro diz que quis "valorizar" actividade da companhia

A directora regional de Cultura do Centro, numa reacção às críticas às suas declarações, em que elogiou a companhia teatral por "não incomodar" com pedidos de apoio, disse, na quinta-feira, que não quis criticar os grupos apoiados pelo Estado. Num comunicado enviado à agência Lusa, Celeste Amaro disse que, "em circunstância alguma", quis "pôr em causa o trabalho desenvolvido por todos os profissionais de teatro, independentemente das formas que encontram para financiar a sua actividade".

No documento, a directora regional de Cultura explica que quis "valorizar a forma" como o grupo Leirena Teatro "tem desenvolvido a sua actividade, sem necessitar de qualquer apoio financeiro da Administração Central, ao longo dos seus quase sete anos de existência". Questionada pela agência Lusa sobre se iria pôr o cargo à disposição ou demitir-se, a directora regional da Cultura do Centro recusou-se a fazer qualquer declaração, remetendo para o comunicado.

Entretanto, o Manifesto em Defesa da Cultura e vários artistas lançaram uma petição pública na qual exigem a demissão de Celeste Amaro. Na petição, dirigida ao ministro da Cultura, os subscritores "repudiam as declarações da directora regional da Cultura e afirmam que, em face da atitude que elas revelam, Celeste Amaro não tem condições para continuar no cargo".

Nesta sexta-feira, o PCP/Leiria condenou, numa nota enviada à agência Lusa, as afirmações da directora regional, manifestando "indignação e repúdio" pelas declarações, que "denotam um profundo desrespeito pelo conjunto dos artistas, companhias de teatro e outras estruturas artísticas que com inúmeras e enormes dificuldades desenvolvem esforços notáveis para promover a cultura, a sua fruição e produção".

A Leirena Teatro, que informou, entretanto, ir apresentar uma candidatura à Direcção-Geral das Artes, para obter financiamento, disse também que não convidou Celeste Amaro para mostrar ter feito programação "sem subsídios" nem para se "comparar a nenhuma outra estrutura", mas sim como "desespero de causa", para dar a conhecer a programação para 2018 e mostrar as dificuldades em que se encontra.

Depois de o PCP e o BE anunciarem a intenção de chamar Celeste Amaro à comissão da Cultura da Assembleia da República, o ministro frisou que as questões serão respondidas "com a maior atenção" e a directora que será ouvida.

Sugerir correcção
Comentar