Eleição do primeiro senador negro é trunfo da Liga contra a imigração

Toni Iwobi é o porta-voz para a Imigração do partido de extrema-direita e fez pela campanha com Salvini para “travar a invasão” de estrangeiros.

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Iowi com Matteo Salvini, o líder da Liga DR

“Realismo, verdade e coragem”. É sob estes três pilares – apresentados em letras garrafais na página inicial do seu site – que assenta o programa político de Toni Iwobi, o primeiro senador negro da História da República Italiana, eleito para o cargo no domingo, pelo partido xenófobo e anti-imigração liderado por Matteo Salvini

Natural de Gusau, no norte da Nigéria, o político que há mais de 40 anos entrou em Itália com um visto de estudante é também o responsável máximo pelo Departamento Federal de Imigração da Liga Norte. Foi nesse papel que nas semanas que antecederam as eleições fez campanha contra o que a Liga chamou de “invasão” de estrangeiros. A hashtag #StopInvasione (“travar a invasão”) foi partilhada no seu Facebook e estampada em t-shirts que o próprio vestiu em comícios eleitorais, acompanhado por Salvini.

A Liga defende a deportação dos quase 600 mil migrantes que entraram em Itália nos últimos quatro anos, muitos deles oriundos africanos.

Iwobi esclarece, no entanto, que a estratégia migratória da Liga passa por apoiar nos seus próprios países aqueles que pretendem entrar em território italiano e alega que a discriminação e o racismo advêm da falta de controlo nas fronteiras. 

“A discriminação começa quando não há regras e quando o Estado deixa qualquer um entrar. E essa ilegalidade traduz-se em violência e em respostas racistas”, afirmou num comício partidário em Janeiro. “A Liga apoia uma imigração saudável e controlada, que pode representar um bastião contra o racismo”, sinalizou, citado pela Deutsche Welle.

O líder do partido mais votado da coligação de direita que concorreu às eleições – e que aspira à chefia do próximo Governo, por ter suplantado no seu conjunto a percentagem de votos do vencedor, o Movimento 5 Estrelas – vê na eleição de Iwobi um enorme trunfo na execução da sua política migratória e diz mesmo que o político de 62 anos “vai fazer mais pelos imigrantes legais num mês”, do que Jean-Leonard Touadi e Cecile Kyenge – dois deputados negros do Partido Democrático na câmara baixa do Parlamento italiano – fizeram “durante toda a sua vida”. “Racismo em Itália existe apenas na esquerda”, disparou Salvini.

Confronto com Balotelli

Certo é que dentro da comunidade negra italiana há muita gente descontente com a postura assumida por Iwobi contra a imigração. Desde que foram revelados os resultados eleitorais que proliferam reacções de indignação nas redes sociais. Esta quarta-feira o futebolista Mario Balotelli, de ascendência ganesa, juntou-se à onda de críticos e partilhou a seguinte mensagem no seu Instagram: “Talvez seja eu que sou cego ou talvez ninguém lhe tenha dito [a Iwobi] que é negro. Mas que vergonha!”

Toni Iwobi aterrou em Itália nos anos 70 e casou com uma mulher de nacionalidade italiana, anos mais tarde. Completados os estudos, fundou uma empresa de informática e acabou por juntar-se à Liga Norte em meados nos anos 90, como conselheiro na cidade lombarda de Spirano, situada na província de Bergamo – onde vive actualmente.

Confirmada a sua eleição para o Senado, o dirigente político utilizou as redes sociais para celebrar o acontecimento e agradecer o apoio dos amigos, apoiantes, família, partido e, claro está, de Salvini. “Depois de 25 anos de batalhas na grande família da Liga, uma nova grande aventura está prestes a começar. Obrigado a Matteo Salvini, um grande líder que levou a Liga tornar-se na primeira força de centro-direita no país”, escreveu no Facebook.

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"Talvez ninguém tenho dito a Iwobi que é negro", reagiu Balotelli Darren Staples/REUTERS
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