Apesar do “baixo” risco de acidente, Bélgica disponibiliza pastilhas de iodo grátis

Estas pastilhas saturam a tiróide e impedem a absorção de iodo radioactivo (mas não de outros agentes nocivos libertados num eventual acidente nuclear). O governo belga garante que o risco de acidente nuclear é reduzido, “mas não inexistente”.

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As pastilhas de iodo, que saturam a tiróide, oferecem protecção durante pelo menos 24 horas Michaela Rehle/REUTERS

O Governo belga tornou gratuitas milhares de pastilhas de iodo para os cidadãos que vivam a menos de 100 quilómetros de uma central nuclear, com o intuito de as proteger na eventualidade de um acidente nuclear. Apesar do longo período de vida das centrais nucleares do país, não existe nenhum “risco específico”, garantiu o ministro do Interior belga, Jan Jambon, ao canal RTBF.

Esta medida, em vigor desde terça-feira, está incluída num plano de segurança nuclear do Governo belga, que antes já tinha adoptado a regra para quem se encontrasse a 20 quilómetros das centrais. “O risco de acidente nuclear na Bélgica é baixo, mas não é inexistente”, lê-se no site belga sobre precauções a ter no caso de um acidente nuclear, disponível em três línguas.

As pastilhas de iodo são uma das medidas de prevenção em caso de acidente nuclear, já que permitem saturar a tiróide e evitar a fixação do iodo radioactivo, libertado em alguns acidentes nucleares – esta medida já está a ser aplicada noutros países, como o Japão. No entanto, estas pastilhas não oferecem protecção contra quaisquer outros agentes radioactivos, somente o iodo (que pode causar complicações de saúde mais tarde, como o cancro da tiróide). A melhor estratégia em caso de acidente nuclear continua a ser procurar abrigo coberto dentro de um edifício, avisam as autoridades.

As crianças são um dos grupos mais vulneráveis — “quanto mais jovem se é, mais susceptível aos efeitos do iodo radioactivo se está”, lê-se no site –, assim como as mulheres grávidas e lactantes. Para que seja eficaz, estes comprimidos só devem ser tomados a conselho das autoridades, na altura certa; se tomado devidamente, pode proteger dos efeitos do iodo radioactivo durante pelo menos 24 horas.

Na Bélgica, existem cinco centrais nucleares. As duas mais importantes são os complexos nucleares de Tihange e Doel, que já deviam ter sido encerrados em 2015, mas que foram mantidas em funcionamento até 2025; dois dos reactores destas centrais estiveram fechados durante 21 meses, por questões de segurança. “As autoridades fazem o máximo para garantir a segurança das instalações nucleares. Ainda que o risco seja extremamente baixo, preparamo-nos de forma séria para esta possibilidade”, explicou o ministro do Interior belga, Jan Jambon. Até 2025, o país tenciona deixar de parte a energia nuclear, fechando as suas duas maiores centrais.

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A central nuclear de Tihange, uma das maiores da Bélgica JULIEN WARNAND/LUSA

O estado das centrais nucleares belgas tem gerado alguma preocupação nos países vizinhos, sobretudo na Alemanha, no Luxemburgo e na Holanda. O Governo alemão disponibilizou também milhões de pastilhas de iodo para os cidadãos que vivem perto da fronteira. Há ainda duas outras centrais nucleares a menos de 20 quilómetros da fronteira belga, em França (Chooz) e na Holanda (Borssele).

No que a Portugal diz respeito, o Movimento Ibérico Antinuclear (MIA) pediu ao Governo português, em 2016, que disponibilizasse pastilhas de iodo à população que se encontra na proximidade da central nuclear espanhola de Almaraz – que esteve no ano passado no cerne de uma polémica, depois de ter sido aprovada a construção de um armazém de resíduos nucleares que tinha como objectivo, segundo alguns ambientalistas, prolongar a vida útil da central.

“É imperativo que as autarquias estejam alertas, exijam que se façam exercícios de evacuação e sejam disponibilizadas pastilhas de iodo para as populações”, escreveu o dirigente do movimento, António Eloy, num artigo do PÚBLICO.

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