Linha Évora–Elvas encurtará em 140 quilómetros distância entre Sines e Badajoz

O evento foi apadrinhado ao mais alto nível de Portugal, Espanha e Comissão Europeia: esta segunda-feira foi lançado o projecto de construção de 20 quilómetros de ferrovia no Alentejo. Mas foi mais do que isso.

Foto
LUSA/TIAGO PETINGA

São só 20 quilómetros, mas é o início da maior construção de uma linha ferroviária dos últimos cem anos: 80 quilómetros entre Évora e Elvas, que vão permitir ligar mais directamente o Porto de Sines (e os de Setúbal e Lisboa) a Badajoz, completando-se assim uma parte do corredor atlântico que visa aproximar os portos portugueses do resto da Peninsula Ibérica e da Europa.

Actualmente, a ligação de Sines a Badajoz obriga os comboios de mercadorias a subirem até Vendas Novas e Entroncamento e descerem depois por Abrantes e Portalegre até Badajoz. Com a nova linha de Évora até à fronteira, esta distância é encurtada em 140 quilómetros, assim como o tempo de viagem, que passa das actuais oito horas para quatro horas e meia. Os ganhos de competitividade são óbvios, com o custo do transporte a ser reduzido em 30%.

O vice-presidente da Infra-estruturas de Portugal, Carlos Fernandes, revelou que a futura linha Évora-Elvas-Badajoz vai permitir a passagem de 12 comboios por dia, o que significa retirar 660 camiões da estrada. Numa segunda fase, espera-se que o número de comboios suba para 36, evitando assim a circulação de 2000 camiões. Até 2045, graças a este investimento, evitar-se-á a emissão de 428 milhões de toneladas de CO2.

O mesmo responsável disse que o concurso público para os próximos dois troços desta linha serão lançados nos próximos dois meses. A secção Freixo-Alandroal, numa extensão de 20 quilómetros, terá um preço-base de 105 milhões e o troço Alandroal-Elvas (37 quilómetros) deverá custar 220 milhões. No total, a nova linha representa um investimento de 530 milhões de euros e será construída nos próximos 20 meses. Os fundos europeus deverão representar cerca de metade do total investido.

A importância deste corredor foi evidenciada pela comissária europeia dos Transportes, Violeta Bulc, e também pelo próprio Mariano Rajoy e pelo primeiro-ministro António Costa. Este último referiu que Sines é o porto de águas profundas europeu mais próximo do canal do Panamá num momento em que os portos do Norte da Europa estão congestionados.

Depois de destacar o contexto ibérico e europeu deste investimento, António Costa referiu-se ainda a umas “notas internas” para referir o bom desempenho da economia portuguesa, aludindo a um “novo tempo” em que chegou a hora de apostar no investimento público, o qual em 2017 aumentou 20% e prometendo para 2018 um aumento de 40%. 

Mas do evento de Elvas, para além do anúncio deste concurso público, a única coisa de concreto que saiu foi a assinatura, entre a Infra-estruturas de Portugal e a Teixeira Duarte, da consignação das obras de modernização dos 11 quilómetros do troço entre Elvas e a fronteira do Caia. Uma obra que, segundo o Plano de Investimentos Ferrovia 2020, já deveria ter sido concluída até Dezembro de 2017, mas que derrapa agora para finais de 2018.

O favor de Rajoy a António Costa

Mariano Rajoy esteve duas horas em Portugal, disse umas palavras de ocasião, reforçando a boa relação entre os dois países, e bateu palmas à festa portuguesa de lançar um concurso público para construir os 20 primeiros quilómetros de via-férrea dos 80 que vão ligar Évora a Elvas.

É certo que esta linha faz parte do corredor atlântico, aproxima os dois países e teve o beneplácito (leia-se financiamento) da Comissão Europeia, com a presença da comissária Violeta Bulc, mas o Governo falhou todos os prazos que estimou para a sua construção. Segundo o plano Ferrovia 2020, anunciado em 2016, a linha entre Évora-Norte e Elvas já deveria estar em execução desde o início deste ano, o troço de Elvas até à fronteira já deveria estar concluído e a ligação de Évora a Évora-Norte já deveria ter terminado no segundo semestre de 2017 e ainda nem foi lançado concurso público.

Os atrasos são enormes, o que tem permitido ao Governo de Rajoy avançar calmamente com a nova linha de Madrid até Badajoz. Perante a desistência portuguesa do TGV, a Espanha reformulou os seus projectos de investimento para a Extremadura (que agora se queixa de ser a região espanhola com piores acessibilidades ferroviárias).

Ainda assim, Rajoy pode sorrir ao ver estes anúncios dos projectos portugueses. Da parte dele, já estão construídos 180 quilómetros de traçado de alta velocidade entre Navalmoral, Cáceres, Mérida e Badajoz que incluem dois viadutos com 1500 metros cada um e um túnel de cinco quilómetros. O traçado está preparado para velocidades de 350 Km/hora, mas, para já, só está a ser assente uma via única, em bitola ibérica, por onde circularão comboios a diesel porque a electrificação ficará para mais tarde.

Sugerir correcção
Comentar