Vai um cozido? A comida tradicional pode ser saudável

Projecto Nutriciência desafiou 1500 famílias de todo o país e, um dos resultados, é um livro com 30 receitas tradicionais, cozinhadas de forma equilibrada.

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PÚBLICO/Arquivo

Cozido à portuguesa, chanfana, carne de porco com castanhas... Assim, de repente, imaginamos os enchidos, a gordura, o sal, mas é possível tornar estes e outros pratos da cozinha tradicional portuguesa mais saudáveis, sem trair os seus sabores, explica Patrícia Padrão, professora da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação (FCNA) da Universidade do Porto e uma das responsáveis pelo projecto Nutriciência que publicou recentemente o livro Saudáveis e à Portuguesa, editora Bertrand.

Aumentar a literacia nutricional das famílias portuguesas foi o objectivo do projecto que começou em 2016, junto de 1500 famílias com crianças nos infantários da União das Misericórdias, de Norte a Sul do país. José Azevedo, coordenador do projecto e professor na Faculdade de Letras do Porto, juntou colegas da FCNA e da Faculdade de Engenharia para aliar a comunicação, o conhecimento e a criação de uma plataforma online. Só assim foi possível fazer desafios às famílias (um concurso de receitas), às crianças (através de jogos) e aos educadores de infância (através de formação). No total foram abrangidas 3000 crianças e cerca de 200 educadores.

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Às famílias eram colocados desafios. Por exemplo, como fazer um caldo verde recorrendo a leguminosas? Em vez da batata, fazer uma base de feijão branco e courgette, propôs a família Costa, da Maia, que viu assim a sua receita publicada. "Nós dávamos dicas para reduzir, por exemplo, o sal nos pratos, e as famílias correspondiam", explica Patrícia Padrão. No total, chegaram ao projecto 700 receitas. 

"Tivemos a árdua tarefa de seleccionar 30 para serem publicadas, que representassem todo o país. Foram premiadas também pela criatividade", acrescenta a docente. As receitas foram cozinhadas pelo chef Hélio Loureiro para um programa que foi para o ar na RTP, durante o ano passado, e chegaram também pela sua mão ao livro. 

E, findo o projecto, as famílias ficaram a comer melhor? O projecto não avaliou os hábitos alimentares, mas sim a literacia nutricional e essa melhorou. "As famílias tinham mais conhecimentos sobre alimentação, nutrição e atitudes, houve uma mudança", responde Patrícia Padrão. Essas melhorias fizeram-se sentir quer com famílias de estrato social mais alto como mais baixo e esse era outro dos objectivos, a redução das desigualdades, informa. "Quisemos demonstrar que a comida tradicional pode ser saudável e equilibrada, assim como mostrar que o que produzimos localmente é tão bom ou melhor do que o que vem de outro ponto do mundo", conclui.

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