A memória, o papel. O futuro

Esta edição é uma homenagem. A si, à nossa missão, a quem nos fundou. E é também uma resposta, como quem lhe diz que sabemos que o futuro é hoje.

Vinte e oito anos e o Vicente de volta à redacção. Hoje é dia de aniversário do PÚBLICO e não resistimos a olhar para trás.

Nesta viagem no tempo que hoje lhe entregamos cabe tudo o que é a nossa memória. Cabem as figuras e os acontecimentos que transformaram o mundo em tão pouco tempo. Cabem as diferenças que separam os anos. Cabe o grafismo da fundação e a recordação de como tudo começou. Cabe o Calvin, que o Luís Afonso trouxe pelo ombro do Bartoon, num daqueles momentos que nos enche de saudade.

Tudo isto é memória, mas não é nostalgia. É jornalismo, no seu elemento mais imutável: o de garantir a construção de uma memória colectiva. Aquela que recuperamos quando queremos olhar para a nossa identidade. Aquela que procuramos quando precisamos de dar contexto a uma história. Aquela de que precisamos para nos situarmos em cada dia.

Sintomático, falarmos de memória nos dias de hoje, quando parece que temos a memória sempre à mão. Quando acabaram as velhas enciclopédias, porque basta uma pesquisa na Net para que tudo nos chegue em um segundo. 

Não é assim tão simples, pois não? Na Internet pode estar um mundo, mas um mundo é grande demais para procurar o que queremos, se não houver memória do quê. E grande demais para garantir a fiabilidade nessa memória que recuperamos.

É essa a memória que hoje celebramos. A que está ligada à construção da história, a que vem de braço dado com a procura do rigor e a da verdade. Foi por isso também que ontem dedicámos uma edição do P2 à pergunta que tantas vezes nos retém: “Que papel tem ainda o papel?” – o papel de jornal, claro está. 

Foi por isso que nos ficou para a memória a frase de Andrew Tuck, editor da Monocle (uma revista nova, em papel, que nasceu e cresceu nestes novos dias): “Quando lemos algo no papel, o nosso cérebro funciona de forma diferente. O nosso olho, de repente, é captado por algo que normalmente não leríamos. As pessoas compreendem que há uma espécie de empenho quando enviamos algo para a gráfica – que pensámos mesmo sobre aquilo que temos para dizer.” E que nos deixou boa memória a conclusão da Alexandra Prado Coelho, quando falou com os mais novos: eles também sabem o valor do papel.

Passamos muito tempo, nesta missão, a falar sobre o futuro, a pensar no que devemos fazer para chegar lá antes de ele chegar. Hoje, lembramos o que ela teve antes, tem hoje e terá sempre: memória, presença, testemunho.  

Esta edição é, portanto, uma homenagem. A si, à nossa missão, ao essencial dela. Uma homenagem a quem nos fundou – e nos permitiu servi-lo a cada dia. E é também uma resposta, como quem lhe diz que sabemos que o futuro é hoje, que o “papel do papel” é servi-lo sempre, na marca dessa memória.

Precisamente por isso, ao Vicente, o nosso director de sempre que nos levou nesta viagem no tempo, tenho que lhe dizer isto, do coração: o prazer é nosso, meu amigo. O prazer é nosso há 28 anos. Que o seja por muitos, muitos mais.

Sugerir correcção
Comentar