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“Doce Virilidade”: conceitos contraditórios?

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No dia em que Myriam Boulos caminhou pelas ruas da capital da Costa do Marfim, Abidjan, pela primeira vez, sentiu-se "impressionada pela coerência da cidade". "Tudo era harmonioso e naturalmente lógico", descreve na sinopse do projecto Douce Virilité. "Os prédios, as cores, as roupas, os gestos..." A identidade cultural da urbe era tão una que tornou Myriam "consciente da fragmentação cultural" evidente no seu país de origem, o Líbano. Por volta do meio dia, no dia da chegada, apercebeu-se de que, até então, só tinha fotografado homens. "Que belos são os homens de Abidjan!", pensou.

 

A série fotográfica de Myriam Boulos poderia resumir-se a uma compilação de retratos de "belos homens" costa-marfinenses. No entanto, o título Douce Virilité (que pode ser traduzido como "Doce Virilidade") transporta-nos para questões "necessárias" relacionadas com identidade de género e imposições/expectativas sociais de género. Myriam admite um olhar ingénuo sobre estes homens, "que parecem frágeis e inseguros", quando neles vê espelhada uma "doce virilidade". Será que o título encerra em si conceitos contraditórios? Estaremos perante um oxímoro?

 

"Os homens em Abidjan são como todos os outros seres humanos do mundo; o que os torna diferentes é o facto de eles assumirem sê-lo", afirma. "A sua cultura não lhes impõe que escondam as suas fragilidades e inseguranças naturais", afirma. "Isso está patente na sua atitude." A que atitude se refere a fotógrafa libanesa? "Eles aceitam-se como são, estão satisfeitos com o que têm", elabora. "Não vivem de forma expansionista, não buscam grande riqueza, dominação ou poder", conclui. "Assumem a sua feminilidade", completa. O que significa, afinal a palavra "virilidade"? E a palavra "feminilidade"? De que forma relacionamos estes termos com as palavras "fragilidade" ou "insegurança"?