Arrancou o julgamento do número três do Vaticano acusado de abusos sexuais

George Pell é um dos clérigos mais prestigiados da Austrália. É acusado por "múltiplas" testemunhas de crimes de abusos sexuais no passado.

George Pell à chegada do tribunal
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George Pell à chegada do tribunal LUSA/STEFAN POSTLES
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Começou nesta segunda-feira o julgamento do cardeal George Pell — a terceira figura mais importante do Vaticano —, acusado de crimes de abuso sexual de menores. O julgamento arrancou no tribunal de Melbourne, em Austrália, com George Pell, de 76 anos, a comparecer à audiência com o seu colarinho clerical e com uma forte escolta policial a suster a multidão que assistia à sua chegada.

Com 76 anos, George Pell não é obrigado a ser sujeito a um julgamento formal até que um magistrado determine se existem provas suficientes ou não, detalha a Reuters. Por isso, as próximas semanas tratam-se de uma audiência, onde são esperadas cerca de 50 testemunhas, avança o jornal britânico The Guardian. Será no final de as ouvir que a magistrada Belinda Wallington decidirá se existem provas suficientes para que o cardeal seja julgado no Tribunal do Condado de Victoria.

Até lá, o cardeal australiano afastou-se do cargo de secretário para a Economia do Vaticano, para que possa responder às acusações que diz serem falsas.

Esta segunda-feira, no arranque da audiência, a defesa de Pell queixou-se de não conhecer as acusações apresentadas e acusou as autoridades de não estarem a cumprir o seu papel na investigação. Os detalhes não são públicos, mas George Pell enfrenta “múltiplas” queixas de crimes de abuso sexual. As primeiras denúncias de abusos sexuais contra o cardeal tornaram-se públicas em 2002 e foram noticiadas novamente em 2015.

Pell vai ouvir as testemunhas acompanhado

Quando o procurador responsável por conduzir as acusações pediu ao tribunal para que as testemunhas contra Pell pudessem ser acompanhadas por um assistente social e um cão de apoio emocional para conseguirem falar sobre os traumas a que foram alegadamente sujeitas, o advogado do cardeal provocou a acusação e afirmou sempre ter acreditado que “cães são para as crianças e para os velhinhos”. A juíza respondeu prontamente que “também são para pessoas vulneráveis e traumatizadas”. O advogado pediu então que Pell tivesse também direito a ser acompanhado durante a audiência, devido à sua “idade e débil saúde”, cita a Reuters. O pedido foi aceite.

George Pell é cardeal desde 2003 e um dos mais prestigiados clérigos da Austrália. Foi nomeado pelo Papa Francisco em 2014 para liderar a pasta das actividades financeiras do Vaticano. Quando o Papa João Paulo II morreu, o cardeal australiano foi apontado como um dos potenciais sucessores ao lugar de líder da Igreja Católica. 

O caso agora em audiência recorda o escândalo sexual ligado à Igreja Católica que conduziu ao afastamento do arcebispo Bernard Law. O arcebispo norte-americano tinha conhecimento dos crimes sexuais a menores e ocultou as denúncias, protegendo os predadores, que relocalizava de paróquia em paróquia. O escândalo foi denunciado pelo jornal Boston Globe, mas Law morreu no final de 2017 sem nunca ter sido condenado. Procurou refúgio em Roma, onde trabalhou como arcebispo papal na biblioteca da Basílica Santa Maria Maior. 

O Vaticano recusa-se a comentar o caso até existir uma conclusão da audiência e um possível julgamento.

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