Comer menos carne? Os hambúrgueres de cogumelos podem ajudar

A produção de animais é um dos principais culpados pelas alterações climáticas, constituindo cerca de 15% de todas as emissões de gases de efeito estufa.

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Carlo Allegri

De pedaços de frango suculentos a pãezinhos de salsicha com bacon e atum, o produtor Jaap Korteweg tem de tudo. Tudo, menos carne, na sua empresa em Haia. O holandês juntou-se a cientistas e chefs para criar substitutos da carne a partir de plantas e agora vende-os no mercado europeu, mas não só.

Korteweg, um agricultor da nona geração, tornou-se vegetariano depois de, na crise da peste suína, em 1997, milhões de porcos terem sido abatidos. A sua mudança deve-se à preocupação com o bem-estar dos animais, reconhece. Mas, apesar da mudança, reconhece que o sabor e a textura da carne são os factores que não levam a que mais gente se torne vegetariana. "Não é que as pessoas desejam comer de forma menos sustentável, menos saudáveis e não se importam com o bem-estar dos animais, mas estão presas à carne", considera Korteweg, ouvido pela Reuters.

A produção de animais é um dos principais culpados pelas alterações climáticas, constituindo cerca de 15% de todas as emissões de gases de efeito estufa, e, de acordo com a FAO, há um uso menos eficiente da terra e da água na produção de carne do que na agricultura.

Enquanto os governos e os cientistas procuram formas de reduzir as emissões da produção animal, muitos especialistas defendem que só a diminuição do consumo de carne, sobretudo nos países ricos, pode fazer a diferença no que ao ambiente diz respeito. 

Hambúrguer de cogumelo?

Se todos os hambúrgueres comidos nos EUA pudessem ser feitos de 70% de carne e 30% de cogumelos, isso economizaria tantas emissões quanto 2,3 milhões de carros na estrada, segundo uma pesquisa do World Resources Institute (WRI). Também pouparia água equivalente à usada em 2,6 milhões de lares norte-americanos e reduziria a terra agrícola necessária para produzir hambúrgueres a uma área pouco maior que o estado de Maryland, ou o tamanho da Bélgica, continua o WRI.

Os hambúrgueres de cogumelos, pioneiros nos Estados Unidos, onde o WRI calcula que são comidos por ano cerca de dez mil milhões de hambúrgueres, estão disponíveis nos supermercados, e são servidos em algumas escolas e cantinas de empresas.

Esta segunda-feira, os hambúrgueres serão lançados nas cadeias de fast-food da Sonic em todo os Estados Unidos. A marca declarou que vão chegar a todos os restaurantes.

Este é um movimento que "está a crescer realmente nos Estados Unidos", conquistando quer a indústria como os consumidores. "Acreditamos que tem a oportunidade de ser uma solução global", defende Daniel Vennard, director do laboratório do consumidor do WRI.

Rotular alimentos

Comer demasiada carne tem sido associado à obesidade, doenças cardíacas, diabetes e certos tipos de cancro, levando alguns governos, incluindo o da China, a encorajar as pessoas a cortá-la da sua dieta.

No entanto, a pesquisa diz que rotular os alimentos como "vegetarianos" ou "saudáveis" também pode afastar os consumidores. Linda Bacon, cientista comportamental e ex-directora de estratégia global da Mars, Inc, estudou como as escolhas das pessoas num restaurante dependem de onde os pratos vegetarianos são colocados num menu.

A responsável descobriu que, quando o risotto de ervilha e o prato de queijo ricotta e espinafres estão no final do menu sob o título "Pratos vegetarianos", as pessoas têm menos 56% de probabilidades de escolhê-los, do que se fossem listadas como o primeiro e o último prato num menu unificado, onde se incluem pratos de peixe e de carne.

"Esta e outras pesquisas semelhantes mostram que os restauradores podem influenciar os seus clientes a comer mais vegetais e menos carne", escreveu.

Nomes atraentes

O uso de descrições atraentes também aumenta as vendas de pratos vegetarianos, dizem investigadores da Universidade de Stanford. Quando a cantina da universidade usava identificações como "chalotas crocantes", "batatas doces com gengibre" e "milho doce torrado com manteiga", vendiam mais do que se os mesmos pratos recebessem etiquetas com informação mais saudável ou, simplesmente, com a identificação do vegetal.

Entretanto, Korteweg, o produtor holandês de frango e legumes à base de vegetais, agora vende os seus produtos pela Europa, Israel e Coreia do Sul. No Reino Unido e na Holanda os produtos são vendidos nos supermercados,.

O seu primeiro cliente foi um talho perto de Roterdão. "Ele provou os nossos produtos e disse: 'Não é necessário usar carne. Eu só quero usar produtos saborosos'", recorda Korteweg.

As "carnes" são feitas de trigo, feijão, ervilha, soja e outras proteínas à base de plantas, que são colocadas numa máquina que ajuda a dar-lhes uma textura semelhante à carne. "O meu sonho é que em 20 ou 30 anos não precisemos mais de animais e produzamos trigo não para os animais, mas para máquinas que podem produzir produtos de carne muito saborosos de forma sustentável, saudável e mais inteligente", conclui.

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