Trump brinca com o "caos" na Casa Branca: "Quem será o próximo a sair?"

“Ninguém faz humor auto-depreciativo melhor do que eu”, afirmou o Presidente norte-americano durante um jantar de gala do Gridiron Club, em Washington.

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“Sobre o risco de estar a lidar com um louco, o problema é dele, não meu”, disse o presidente sobre o líder norte-coreano Reuters/CHRIS KEANE

Donald Trump gozou com o “caos” na Casa Branca durante jantar anual do Gridiron Club, um evento de gala do clube de jornalistas norte-americano, que decorreu na noite de sábado em Washington. Entre os alvos do seu humor (ou de quem redigiu as piadas) estiveram o genro Jared Kushner, a mulher, Melania Trump, e várias figuras do Partido Democrata.

“Ninguém faz humor auto-depreciativo melhor do que eu”, começou por afirmar o Presidente norte-americano. Foi a sua estreia num jantar do Gridiron Club, que organiza um evento anual com as principais figuras de Estado, com todos os Presidentes a marcarem presença desde 1885 — excepção feita a Grover Cleveland, ainda no século XIX. A gala é marcada pela troca de piadas entre os representantes dos dois partidos norte-americanos e os jornalistas, bem como pelos momentos musicais.

O Presidente usou o seu tempo de antena para brincar com os acontecimentos da última semana na Casa Branca. A primeira vítima foi o seu genro: “Chegámos atrasados esta noite porque Jared [Kushner] não conseguia passar pela segurança”, disse o Presidente, citado pela BBCsobre o genro que viu as suas credências de segurança serem reduzidas após suspeitas de ter sido influenciado por quatro países.

O procurador-geral Jeff Sessions foi outro dos alvos preferidos das piadas de Trump. O Presidente disse que ofereceu boleia a Sessions para o evento, mas “ele recusou". "Fazer o quê?”, comentou. A referência à recusa de Sessions de continuar no processo de investigação do FBI às suspeitas de conluio entre o governo russo e a campanha republicana durante as presidenciais de 2016 é óbvia. Tal como a tensão (histórica) latente entre os dois.

As constantes demissões na Casa Branca – com Hope Hicks, directora de comunicação, como último nome da já extensa lista de antigos colaboradores do Presidente – também foram motivo de piada. “Muita gente tem saído da Casa Branca. Tem sido muito emocionante e revigorante porque quero estar rodeado de novas formas de pensar. Gosto de mudança. Gosto de caos. É muito bom", afirmou.

"A pergunta que toda a gente se deve estar a fazer é 'quem vai sair a seguir?' Steve Miller [o responsável por escrever os discursos de Trump] ou Melania [a sua mulher]?” O líder norte-americano classificou a sua própria piada como "terrível" e acrescentou, em jeito de desculpa, que Melania tem sido "uma primeira-dama incrível". "Amas-me, não é, querida?", acrescentou Trump, de acordo com o Politico.

Sobre o vice-presidente Mike Pence, que também esteve no jantar, Trump disse: “Tenho muito orgulho em dizer que é meu aprendiz. Nos últimos tempos tem mostrado um grande interesse nas notícias. Anda a perguntar ‘já foi destituído?’. Não gosto disso”. Trump referia-se ao programa do canal NBC que apresentou durante a primeira década dos anos 2000, The Apprentice, e às muito comentadas intenções presidenciais de Pence, que subiria à chefia de Estado caso o milionário tivesse de abandonar o cargo antes do final do mandato.

Já acerca de Steve Bannon, ex-estratega de Trump, o tom, apesar de humorístico, foi mais duro: “Este tipo meteu mais água [leaks, em inglês] do que o Titanic”, disse o Presidente norte-americano, referindo-se à divulgação de informação confidencial por parte de Bannon ao autor do livro Fogo e Fúria.

Teste de QI para senadora negra

Num jantar cheio de jornalistas não poderiam faltar piadas sobre a imprensa, ou “o inimigo do povo”, como classificou Trump. O chefe de Estado escolheu o New York Times como bode expiatório e disse que ambos eram ícones de Nova Iorque – “a diferença é que eu ainda sou dono dos meus edifícios”, brincou.

As piadas mais arriscadas foram feitas com base nos democratas. Sobre a líder da minoria do Senado, Nancy Pelosi, Trump disse que era “louca”, cita a CNN. A Maxine Waters, uma das congressistas mais entusiasmada com a possibilidade de impugnação de Trump - e negra - , o Presidente recomendou que faça um teste de QI.

Houve tempo ainda para referir Kim Jong-un, líder da Coreia do Norte: “Sobre o risco de estar a lidar com um louco, o problema é dele, não meu”, disse o Presidente. E de seguida disse algo que não é tão claro se se tratou de uma piada ou não: que a Coreia do Norte ligou “há uns dias”, mostrando-se disponível para o diálogo, ao que Trump respondeu que também estaria “mas só se acabassem com o nuclear”.

Imitar Xi nos EUA?

Ainda sobre rivais asiáticos, Trump brincou ao dizer que não desdenharia seguir o exemplo do Presidente chinês Xi Jinping, que arrisca perpetuar-se no poder ao ter conseguido abolir o limite de mandatos. "Talvez tenhamos de experimentar fazer isso aqui nos EUA um dia destes" - e aqui a piada deixou de ter graça.

No final do discurso, o líder norte-americano despediu-se dizendo que tinha que se “levantar cedo” para ver Fox e companhia – o seu programa de televisão preferido, no canal conservador. Mas classificou o serão como “uma das melhores noites” passada com a impensa “de que tem memória”. “Esta é capaz de ser uma das melhores noites que já tive desde que vi as vossas caras na noite das eleições”, rematou.

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