Morreu Roger Bannister, o homem da milha em menos de quatro minutos

Nunca ganhou uma medalha olímpica, abandonou o desporto aos 25 anos para se dedicar a uma carreira na medicina.

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“Recorde da pista, recorde de um inglês nativo, recorde europeu, recorde do império britânico, recorde do império do mundo”, foi o que se ouviu na pista de cinza de Iffey Road, em Oxford, quando Roger Bannister se tornou no primeiro homem a correr a milha em menos de quatro minutos a 6 de Maio de 1954. Os 3m59,4s duraram pouco como recorde do mundo (apenas 46 dias) mas garantiram um lugar na história a Bannister, que morreu neste sábado, aos 88 anos.

Sir Roger Bannister foi um exemplo maior de mente sã em corpo são. Foi um estudante brilhante e precoce (foi admitido em Oxford aos 17 anos), um neurologista de excelência e um atleta de eleição, como provou pelo recorde da milha, distância que não se corre nas grandes provas internacionais, mas que continua a ser a única prova fora do sistema métrico a ter um recorde oficial nas listas da Federação Internacional de Atletismo. Nos anos 1950, baixar dos quatro minutos na milha era tão simbólico com baixar dos 10 segundos nos 100m.

Baixar dos quatro minutos na milha era uma obsessão internacional. Os melhores americanos, australianos e britânicos faziam tentativas amplamente publicitadas para quebrar o recorde do sueco Gunder Hagg, 4m01,4s feitos em 1945. Talentoso e metódico, Bannister preparou uma corrida para o recorde, com cinco “lebres” de alta qualidade para manter o ritmo, vários deles ex e futuros campeões olímpicos. O recorde simbólico foi mesmo uma realidade, mas caiu 46 dias depois, “culpa” do australiano John Landy, que fixou a marca em 3m58s.

Era inevitável o confronto entre os dois e foi o que aconteceu em Agosto desse ano nos Jogos do Império Britânico em Vancouver. A chamada “Milha do Século” foi para Bannister, seguido de Landy, com ambos a correrem abaixo dos quatro minutos. Nesse ano, Bannister seria ainda campeão europeu de 1500m em Berna, um sucesso que nunca conseguiu reproduzir no palco olímpico – foi quarto nos Jogos de 1952 em Helsínquia. Quando estava no auge, Bannister retirou-se aos 25 anos da vida desportiva para se dedicar à medicina. Foi um brilhante neurocirurgião, investigador e professor, para além de ter contribuído para a luta antidoping. Sofria da doença de Parkinson desde 2011, mas Sir Roger Bannister foi um cidadão activo e influente até ao fim.

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