Suzanne Cotter: “I.M. Pei é monumental; a arquitectura de Siza é mais intimista”

A ex-directora do Museu de Serralves é desde Janeiro a nova directora do MUDAM no Luxemburgo.

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Suzanne Cotter Nelson Garrido

Suzanne Cotter é, desde Janeiro, a nova directora do MUDAM. Mas a mudança para o museu do Luxemburgo está a fazê-la ainda gradualmente; e a sua marca só vai poder notar-se a partir do Outono e principalmente no início de 2019. O facto de a ex-directora do Museu de Serralves ter tido o primeiro contacto com a comunicação social luxemburguesa, este fim-de-semana, a pretexto da inauguração de um artista português foi mera coincidência, mas “uma coincidência feliz”, diz Cotter ao PÚBLICO, admitindo também que já sente saudades do Porto.

Na sua primeira apresentação pública como directora do MUDAM, está a inaugurar uma exposição de um artista português...
Sim. Não foi uma escolha minha, porque a programação deste ano já estava feita quando fui escolhida para dirigir o museu. Mas é uma coincidência feliz que seja o João Penalva, cujo trabalho conheço bem, nomeadamente as suas obras na Colecção de Serralves. Formalmente, assumi funções no início de Janeiro, mas só desde há três semanas é que estou aqui em permanência. Está a correr muito bem, e já começámos a trabalhar na arquitectura da minha programação para o próximo ano. Este é um museu com um grande potencial, apesar de ter pouco mais de dez anos.

O edifício desenhado por I.M. Pei é uma marca muito forte.
O edifício é a expressão da ambição que o próprio país teve para o MUDAM, que é um museu nacional. Estamos agora num momento interessante do seu crescimento. E, evidentemente, é uma vantagem ter este edifício…

Como está a viver a transição de um edifício de Álvaro Siza, em Serralves, para esta arquitectura?
São dois edifícios completamente diferentes. Mas têm elementos comuns: a atenção aos detalhes, o cuidado na relação do interior com o exterior, o tratamento das janelas e da luz... Há aqui uma arquitectura graciosa, que é idêntica à de Siza, mesmo se as proporções são diferentes. Diria que o edifício de Pei é monumental, muito próximo do que conhecemos dele em Paris, a pirâmide do Louvre. Mas mantém também um diálogo com o contexto na ligação ao antigo forte. A arquitectura de Siza é mais íntima. Mas ambos nos oferecem boas possibilidades para a apresentação da arte. E interessa-me trabalhar essa hospitalidade, os percursos, permitir uma descoberta... A pensar em 2019, eu e a equipa curatorial já começámos a mudar um pouco a dinâmica do museu: apostar no cruzamento das exposições com outras iniciativas, introduzir mais programas vivos, performances... Coisas que se farão notar já no próximo Outono.

Quais são as características da colecção do MUDAM?
É uma colecção contemporânea. Tem uma cronologia mais recente do que a de Serralves, porque começou nos anos 90. Mas tem um percurso idêntico ao do museu do Porto. Também criaram um fundo para aquisições; há um comité científico muito sério que faz as escolhas. Tem fotografia, muita pintura alemã e vários artistas portugueses, desde o início: Pedro Cabrita Reis, Miguel Palma, Francisco Tropa, o João Penalva, claro, e outros. Aqui vou poder continuar a apresentar o trabalho dos artistas portugueses, e dos produtores culturais portugueses. Isso é importante, não porque se trate de portugueses, mas porque são artistas universais, com obra e visibilidade internacional, como é o caso do João [Penalva] — mesmo se ele tem alguns elementos que se vê que vêm claramente da cultura portuguesa, com uma dimensão literária e poética muito forte e muito bela.

A que distância se sente já do Museu de Serralves?
A saída foi pacífica, mas, evidentemente, não é fácil deixar um lugar onde se trabalhou cinco anos, e onde tive o privilégio de conhecer e lidar com artistas e também pessoas da cultura e do mundo intelectual português, com figuras como Siza, por exemplo. E eu envolvo-me muito nas situações. Mas, sim, tenho de admitir que já tenho saudades do Porto.

O que acha da escolha de João Ribas para a substituir na direcção de Serralves?
Foi uma boa escolha. O museu tem de continuar, de experimentar outras perspectivas, de se abrir às novas gerações. Só pode correr bem.

O PÚBLICO viajou a convite do MUDAM

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