Juncker ameaça Harley Davidson, jeans e o bourbon dos EUA

Na guerra comercial dos direitos aduaneiros, o presidente da Comissão Europeia afirma que a Europa deve atacar produtos norte-americanos.

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Produtos americanos como as motos Harley Davidson podem ser objecto de uma política proteccionista por parte da UE REUTERS/Carlos Barria

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, voltou à carga no braço de ferro dos direitos aduaneiros com os EUA. Depois de prometer uma resposta "firme" da Europa à anunciada aprovação de taxas de 25% sobre o aço e de 10% sobre o alumínio importados pelos EUA, o líder comunitário disse nesta sexta-feira à noite, numa entrevista a um canal alemão de televisão, que "se os americanos impõem direitos aduaneiros sobre o aço e o alumínio então nós temos de ameaçar os produtos americanos da mesma forma". E citou depois três produtos emblemáticos produzidos nos EUA, e consumidos por todo o mundo.

"Passaremos a cobrar direitos aduaneiros sobre as Harley Davidson, o bourbon do Kansas e os jeans da Levi's", acrescentou o presidente da comissão. "Temos de mostrar que nós também podemos tomar medidas. Isto não pode ser uma decisão transatlântica internacional. Não estou a dizer que temos de ripostar, mas temos de tomar medidas", acrescentou. Segundo a Reuters, a UE considerará aplicar uma taxa de 25% sobre metais, bens industriais e produtos agrícolas. "Gostaríamos de ter uma boa relação com os EUA, mas não podemos simplesmente enfiar a cabeça na areia", protestou Juncker. A mesma agência escreve que ao aplicar direitos aduaneiros a tais produtos dos EUA, a Europa estaria à procura de uma receita na ordem dos 3500 milhões de euros, para "reequilibrar" a balança comercial UE-EUA. 

Tal como o PÚBLICO noticiou, a China parecia ser o alvo fundamental desta política comercial proteccionista defendida por Trump, mas são as exportações do Canadá, do Brasil e da União Europeia que mais vão sentir as consequências em termos de preço, se se confirmar a aprovação das taxas prometidas pela Casa Branca, na quinta-feira, durante um encontro entre a Administração Trump e industriais do sector metalúrgico dos EUA.

Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), no entanto, é importante salientar que os danos de tal política não se resumem aos parceiros e aliados comerciais dos EUA – é a própria economia norte-americana quem vai sofrer as consequências. "As restrições nas importações anunciadas pelo Presidente Trump devem causar prejuízos fora dos EUA mas também à própria economia norte-americana, incluindo os sectores da construção e da indústria metalomecânica que são os principais clientes do aço e do alumínio", afirmou Gerry Rice, porta-voz do FMI, cuja sede se localiza precisamente em Washington. "Preocupa-nos que as medidas propostas pelos EUA venham aumentar o número de países que recorrem o argumento da segurança nacional para justificar restrições nas importações", salientou, exortando a Casa Branca a trabalhar para uma solução construtiva para "reduzir as barreiras comerciais e resolver os diferendos sem recorrer a medidas extremas" deste género.

Pelo Twitter, Donald Trump não se mostrou incomodado com o rol de críticas que o anúncio de quinta-feira suscitou. "Guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar", escreveu numa das mensagens com que abordou o tema nesta sexta-feira.

Noutra mensagem defendeu que Washington tem de "proteger o país e os trabalhadores". "A nossa indústria do aço está em má forma", prosseguiu, acrescentando depois, em maiúsculas: "SE NÃO TÊM AÇO, NÃO TÊM UM PAÍS!" 

Também o secretário do Comércio dos EUA, Wilbur Ross, minimizou a "histeria" das reacções negativas. Questionado pelas consequências do aumento das taxas relativas aos direitos aduaneiros, num programa da CNBC, Ross puxou primeiro de uma lata de sopas Campbell's e depois de uma lata de Coca-Cola para sustentar que, em termos unitários, o aumento do preço na fabricação daqueles dois produtos (as latas são de alumínio) é irrisório.

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