Obras em ermida medieval de Beja questionadas pela população

Substituição de pavimento no interior do templo foi realizada sem consulta à Direcção Regional de Cultura do Alentejo.

Fotogaleria
Fotogaleria

O piso em madeira no interior da Ermida de S. Estevão, uma das mais antigas da cidade de Beja, há já alguns anos que apresentava tábuas apodrecidas a necessitar de reparação. Alertado para a situação , o bispo de Beja, D. João Marcos, contratou dois pedreiros para “fazer alguns remendos nos pontos fracos do pavimento”. Mas depressa se percebeu que assim não se resolvia a situação. “Tivemos de tirar todas as tábuas e até os caibros”, explicou ao PÚBLICO D. João Marcos. Mas a intervenção criou celeuma na cidade.

Os materiais retirados iam sendo colocados no exterior da ermida e algumas das pessoas que observavam a intervenção interrogavam-se se a Diocese de Beja estaria a cumprir a lei. João Cavaco, residente, procurou informar-se do que se passava, frisando ter questionado um sacerdote e a autarquia local sobre as obras que considerou serem “ilegais” por a pequena capela episcopal estar na zona especial de protecção da Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, classificada como Imóvel de Interesse Público.

Nestas circunstâncias, qualquer intervenção que decorra em áreas classificadas no centro histórico de Beja, carecem de um projecto, assinado por arquitecto e aprovado pelas instituições que tutelam o património (Direcção Regional de Cultura do Alentejo), e de acompanhamento arqueológico.

“Nada disto foi feito e a obra não foi sequer comunicada ao município”, garante João Cavaco, sublinhaando que os funcionários contactados ficaram “muito surpresos” por estarem a decorrer trabalhos na ermida sem que nos serviços técnicos da autarquia entrasse um pedido nesse sentido.

O bispo de Beja tem uma interpretação diferente sobre a intervenção que ordenou na Ermida de S. Estevão, argumentando que a “capela não é um edifício classificado”. "Tudo o que se possa fazer lá dentro é da nossa responsabilidade”, sublinha. D. João Marcos nega que tenham sido feitas outras intervenções no interior da capela para além da retirada das madeiras do pavimento, desmentindo a realização de escavações no subsolo que é zona de antigos enterramentos, sobretudo do período medieval.

Logo que teve conhecimento das obras na capela episcopal, a directora regional de Cultura do Alentejo, Ana Paula Amendoeira, fez deslocar ao local dois técnicos para se inteirarem do tipo de obras que estavam a ser feitas. A observação efectuada permitiu concluir que “não estão a ser envolvidos nos trabalhos intervenções nos níveis arqueológicos”.

A directora regional explicou ao PÚBLICO que, apesar da ermida se encontrar em zona especial de protecção, “só em obras exteriores que possam ter impacto na estrutura classificada” é que são requeridos pedidos de autorização do projecto e acompanhamento arqueológico.

As intervenções no interior só têm que ter a aprovação da tutela se houver envolvimento nos níveis arqueológicos, “o que não é o caso”, observa Ana Paula Amendoeira. Contudo, a direcção regional vai continuar a acompanhar os trabalhos que vão prosseguir na ermida de Santo Estevão.

Entretanto, as redes sociais estão a ser o principal veículo dos protestos dos cidadãos que não se conformam com a decisão da Diocese de Beja e o alegado desconhecimento das obras por parte do município, vincando o rigor com que os serviços de fiscalização camarários actuam em relação a obras que decorrem no centro histórico quando se trata de entidades privadas.

Sugerir correcção
Comentar