Bento XVI entrou no Twitter e Francisco chegou ao Instagram com a ajuda de Gustavo Entrala

Foi em 2012 que a Santa Sé se inaugurou nas redes sociais, o sexto continente segundo os pontífices.

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O ex-jornalista espanhol Gustavo Entrala mandou uma carta para o Vaticano a oferecer os seus préstimos e a resposta, apesar de tardia, foi sim Sebastião Almeida

Bento XVI escreveu sobre a Internet em 2009 dizendo que a Igreja poderia ter evitado muitas crises se dominasse melhor o uso daquela ferramenta. O espanhol Gustavo Entrala entendeu aquela missiva como um apelo. Ex-jornalista e com uma agência de comunicação que fazia a gestão de páginas nas redes sociais, muitas de famosos, Entrala decidiu escrever para a Santa Sé, para oferecer os seus préstimos. Esteve até Dezembro passado a trabalhar com o Papa, agora é um mero consultor com um ano sabático e muitas aulas e conferências para dar. Esteve em Lisboa, nesta sexta-feira, onde falou com os jornalistas, a convite da Opus Dei, e, de seguida foi dar uma aula à AESE, mesmo ao lado.

Escrever para o Vaticano é como escrever a Tom Cruise, brinca Entrala. Ou seja, não se sabe se alguém irá responder e durante quatro meses e meio não chegou carta até que, um dia, o telefone tocou. Entrala pegou na sua equipa e meteu-se num avião para Roma para uma semana de “trabalho intenso”, que envolveu toda a hierarquia. “Houve até um certo escândalo, porque nunca se tinha feito um brainstorm no Vaticano”, recorda. Foi assim que nasceu a comunicação da Santa Sé nas redes sociais. 

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O primeiro tweet escrito por Bento XVI foi publicado a 12 de Dezembro de 2012, anunciando a sua chegada ao mundo digital, desejando receber reacções e dando a sua benção. A conta foi criada em nove línguas, entre elas o latim, que aparentemente está bem vivo com os seus actuais 800 mil seguidores. “Quando Bento XVI saiu, em Fevereiro 2013, tinhamos três milhões e meio de seguidores, agora são 47 milhões”, contabiliza Entrala.

A chegada de Francisco trazia a incerteza se o novo chefe de Estado quereria manter a conta. O argentino perguntou ao espanhol duas coisas: “Quantas pessoas seguem essa conta? O que é o Twitter?” “Dissemos que tinha três milhões e meio de seguidores e que um tweet era como uma SMS. E ele respondeu: ‘Bom, vamos continuar’”. Embora não seja das contas com mais seguidores, o Papa é “seguido por muito mais gente do que os que o vêem na televisão todas as semanas”. 

Mas com Francisco foi possível chegar também ao Instagram, onde tem mais de cinco milhões de seguidores. O Papa descobriu que é nesta rede que estão os jovens, portanto, um espaço óptimo para evangelizar as novas gerações. Quer Bento XVI quer Francisco falam das redes sociais como o “sexto continente”, diz Entrala. Os dois “consideraram natural a evangelização e a presença cristã nesse novo continente”, acrescenta.

Por quê o Twitter, o Instagram e não o Facebook? “O Facebook tem mais possibilidades de interacção, o que obrigaria a Santa Sé a ter uma equipa a monitorizar os comentários permanentemente. No Twitter não tem de se fazer isso”, responde Entrala. Além disso, é no Twitter que estão as pessoas que interessa influenciar como os jornalistas e outros decisores. Há reacções negativas ao que o Papa escreve? O Twitter gera 90% de reacções positivas, apesar disso, “há muitas mensagens insultando o Papa, o anterior e o actual, há gente no mundo inteiro preparada para atacar assim que há um novo tweet”. E essas reacções, embora sejam apenas 10%, não são bem vistas pela hierarquia, mas Francisco continua porque: “Se este mundo é assim, se a estrada da Internet implica riscos como as outras, então também os quero assumir”, revela Entrala, citando o chefe da Igreja Católica.

E não tem estado sozinho, uma vez, que muitos cardeais, bispos, padres, assim como ordens e congregações têm criado as suas próprias contas e páginas na Internet. “Se estão a fazê-lo bem? Não sei. Sei apenas que há muito mais actividade agora do que há cinco ou dez anos”, avalia.

É o Papa que escreve os tweets? Não, há uma equipa que prepara as mensagens com um mês de antecedência porque tem acesso a tudo o que o Papa vai dizer, as homílias e os discursos, e prepara as mensagens que são aprovadas posteriormente. Mas também há espaço para a novidade ou para um imprevisto como, por exemplo, um terramoto. Mas não há nada como o papel: todas as mensagens são impressas, assinadas pelo Papa e vão para o arquivo do Vaticano.

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