A praia dos pastéis

Os estrangeiros têm razão. A praia está linda. Nem as multidões do Verão conseguem pôr a praia feia. Os estrangeiros têm assim a sorte de ter a praia só para eles.

Está a chover na praia. Outra beleza toma conta dela. Há uma ausência de azul, de verde, de branco e de amarelo. As ondas estão a tentar matar-se. Querem fazer-se ouvir e fazer temer — e conseguem. As gaivotas amuaram às dezenas, estão todas de costas viradas para o mar, envergonhadas pela tormenta, tentando fazer passar a mensagem de que aquele triste espectáculo não tem nada que ver com elas.

É o último dia de Fevereiro. Neva em Roma, diz um turista italiano que está a almoçar na praia. E em Veneza também, diz o amigo. Não é normal, dizem ambos. Fica-se com a impressão que têm pena de não estar lá para ver, ao mesmo tempo que gostam de estar aqui numa esplanada pacata, de camisola de gola alta, a comer polvo cozido e a beber vinho verde gelado.

Há pessoas a passear na praia. “São estrangeiros”, diz um empregado com aquela mistura de desdém e de admiração em que nós os portugueses somos mestres.

Os estrangeiros têm razão. A praia está linda. Nem as multidões do Verão conseguem pôr a praia feia. Os estrangeiros têm assim a sorte de ter a praia só para eles.

Tenho amigos que deixaram de ir aos Pastéis de Belém por causa das filas de turistas: que grande tiro no pé que isso é. São tão bons os pastéis. As empregadas brincam com os portugueses que dizem que se lembram quando aquilo estava sempre vazio. Nunca esteve vazio. Havia era vezes — raras, a más horas — em que não estava cheio.

Queríamos os Pastéis de Belém só para nós. E assim fica só para os estrangeiros. Faz cá um sentido... 

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