Eles são “eternos estrangeiros” no seu país de origem

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Chamam-lhes Irish Travellers. São um grupo minoritário de raiz nómada, da etnia pavee, que obteve reconhecimento enquanto minoria étnica, por parte do Governo irlandês, no dia 1 de Março de 2017, passados séculos de vivência à margem das sociedades da Irlanda e do Reino Unido.

 

Quem é este grupo? O que o caracteriza? Quais os seus valores? Quais os seus hábitos e modo de vida? Existem alguns pilares orientadores no que diz respeito a estas questões. Rebecca Moseman, autora desta série fotográfica — intitulada Irish Travellers e que foi recentemente premiada pelo concurso Exposure da LensCulture —, descreve os os pavee como "um povo autodeterminado e introvertido que mantém uma cultura e tradição cujas raízes se perderam no tempo". “Têm origem pré-gaélica e foram, ao longo dos séculos, trabalhadores nómadas que se dedicavam a trabalhos pouco usuais, como latoeiro.”

 

Existem características comuns entre os pavee e os roma (cigano). Ambos os grupos são nómadas, têm língua própria e ambos são altamente discriminados pela sociedade maioritária onde estão inseridos há vários séculos. A organização não-governamental irlandesa Pavee Point, que se dedica à defesa dos direitos dos pavee e dos roma, afirma: "Os travellers são frequentemente apontados como criminosos e anti-sociais; são vistos como burlões e como pessoas que escolhem viver em condições anti-higiénicas; como um grupo que não tem respeito pelos outros; são associados a comportamentos violentos e apelidados de pouco trabalhadores e subsidiodependentes".

 

Becky Moseman entrou em contacto com este grupo durante a feira equina de Ballinasloe, no condade de Galway, na Irlanda, em 2017. Em seguida, visitou-os em dois tipos de residência: um denominado halting site — uma área habitacional fundada pelo Governo irlandês e mantido pelas autoridades locais, com acesso a electricidade e saneamento — e outro que pode ser descrito como um acampamento ilegal — um local onde estacionam as suas caravanas, normalmente na berma de uma estrada, sem acesso a água corrente ou electricidade. “Embora alguns travellers ainda vivam em caravanas puxadas por cavalos, a maioria já vive em roulottes modernas ou autocaravanas. Alguns deles viveram em acampamentos ilegais durante anos, ignorados pelas autoridades locais; outros continuam a migrar com frequência. Têm orgulho na sua herança nómada e são resistentes à fixação.”

 

A maioria dos pavee trabalha na construção civil ou em ofícios que requerem perícia manual. “Têm, normalmente, muita dificuldade em encontrar trabalho devido a um preconceito histórico”, esclarece Moseman. “A população irlandesa não olha [para] este grupo favoravelmente. [Os pavee] são o grupo minoritário mais numeroso na Irlanda e têm uma história conturbada, tumultuosa. São vistos como forasteiros por assumirem um estilo de vida muito diferente do que é praticado pela maioria. Têm papéis de género e regras de conduta muito particulares”, que visam sobretudo o comportamento de mulheres e raparigas. "Elas não podem namorar, tocar ou demonstrar afecto para com os rapazes até estarem casadas", explica Rebecca. "Não podem beber, fumar ou sair à noite." O casamento adolescente é, por isso, uma prática comum e o abandono escolar precoce uma consequência natural dessa prática; a esperança média de vida dos membros deste grupo étnico é muito inferior à dos restantes irlandeses. “Mais de metade dos travellers não sobrevive aos 40 anos de vida.”

 

Rebecca Moseman achou os travellers “amigáveis, prestáveis e abertos”. “Eles têm, infelizmente, uma reputação de ladrões e de causadores de distúrbios que não os larga”, mas que, na sua opinião, não é merecida. A fotógrafa considera-se “afortunada” por ter tido a oportunidade de contactar com um grupo tão fechado e “tão fascinante” quanto os travellers