Quando uma palmeira azul num bule de chá faz toda a diferença

O Museu Metropolitan de Nova Iorque comprou uma peça de porcelana da história primitiva da América por mais de meio milhão de euros. Anterior proprietário tinha-a adquirido por... 17 euros.

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O bule agora comprado pelo Metropolitan é um exemplar único das primeiras porcelanas feitas na América DR

Na geografia da história mundial, os Estados Unidos da América são, como se sabe, um país relativamente jovem. Ainda não chegaram aos dois séculos e meio de história, mesmo se o território (e os seus habitantes autóctones) já lá estivesse desde tempos remotos. Daí que um par de séculos sejam, para os americanos, toda uma longa história.

Isto explica a relevância da compra que o Museu Metropolitan de Nova Iorque fez há cerca de uma semana em Inglaterra, de um bule de chá de porcelana, mesmo incompleto, por uma soma que ultrapassou os 800 mil dólares (mais de 665 mil euros).

É claro que este não é um bule qualquer. No comunicado em que noticia e justifica a aquisição, o Metropolitan, um dos museus mais importantes do mundo, explica que se trata de um exemplar único das primeiras porcelanas feitas na América, na altura em que o país se estava a declarar independente da Inglaterra, na década de 1760.

A peça em causa, que tem a tampa em falta e a asa partida (foi depois colada), tem algo que a diferencia e a valoriza perante outras criações da época: apresenta uma decoração azul pintada sobre fundo branco e tem como motivo central, além de aves, a palmeira, que é a árvore que aparece na bandeira do estado da Carolina do Sul.

Este bule tem as mesmas características da meia dúzia de peças, com os mesmos motivos mas muito menos relevantes, que é atribuída à manufactura de John Bartlam, que entre 1765 e 1769, usando a mesma técnica inglesa desta época, criou uma estética própria – tipicamente americana, dizem os historiadores –, decorando as suas porcelanas com motivos da região.

Escavações recentes realizadas naquele estado da costa Leste dos Estados Unidos mostraram, de resto, que a fábrica de Bartlam é anterior às de Gousse Bonnin e George Anthony Morris, em Filadélfia (1770-72), até então consideradas as primeiras a fabricar porcelana “americana”, mesmo que baseada na tradição chinesa.

A compra do bule das palmeiras foi realizada num leilão, no dia 20 de Fevereiro, em Salisbury, no sul de Inglaterra, onde o museu nova-iorquino foi representado pelo negociante de arte britânico Roderick Jellicoe. E a compra ganhou ainda maior mediatismo quando se soube também que a referida peça tinha sido adquirida, apenas dois anos antes, por um coleccionador inglês num leilão via Internet duma casa de antiguidades no Lincolnshire, pela soma de... 15 libras (17 euros).

No comunicado em que anuncia a aquisição, feita graças a mecenas, o Metropolitan cita a curadora do seu departamento de Artes Decorativas Americanas, Lulu C. Wang, para atestar a sua importância: “Este bule é o principal testemunho da ambição e do sucesso da empresa de Bartlam, e uma homenagem ao espírito intrépido e empreendedor dos Estados Unidos. O uso de argila das Carolinas [do Norte e do Sul] é um testemunho das ricas matérias-primas da região, e o uso da palmeira – a árvore da Carolina do Sul – como motivo realça ainda mais a relação com a América.”

No seu depoimento, Wang agradece aos mecenas do museu por “terem reconhecido a importância deste bule de chá, e por terem generosamente apoiado a sua aquisição”, e promete expô-lo, “num lugar de destaque, entre outros exemplares de porcelana americana, na próxima Primavera”.

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