Medina: “Se há algo que nos distingue para pior é a mobilidade”

Foi apresentado o Plano Metropolitano de Adaptação às Alterações Climáticas da Área Metropolitana de Lisboa que pretende apresentar soluções que visam preparar os 18 municípios para as consequências do efeito de estufa.

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O aumento da frequência de inundações é uma das consequências das alterações climáticas para as quais os municípios têm de se preparar Enric Vives-Rubio

Para Fernando Medina, o diagnóstico é claro: “Se há algo que nos distingue para pior em relação às várias áreas metropolitanas dos países desenvolvidos esse algo chama-se 'mobilidade'. E isto acontece porque temos em Portugal, nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, uma predominância do transporte individual sobre o transporte público como não existe em nenhum outro lugar”. O presidente da câmara da capital falava durante a conferência de apresentação do Plano Metropolitano de Adaptação às Alterações Climáticas da Área Metropolitana de Lisboa.

A contribuição do transporte individual para as alterações climáticas foi uma das problemáticas em foco na conferência, realizada nesta terça-feira, e que juntou especialistas e autarcas dos municípios da Grande Lisboa. O objectivo era apresentar a primeira fase de um plano que visa capacitar os municípios, sectores estratégicos e instituições com ferramentas para se possam adaptar às consequências desta intervenção humana no clima.

Fernando Medina sublinhou que as necessidades de transporte de Lisboa são satisfeitas em 50% pelo transporte individual, muito fruto da ocupação difusa e desmensurada do território e à falta de respostas de transporte público para a população que vive longe do centro da cidade.

As grandes cidades são — e serão cada vez mais devido à crescente migração que se assiste em todo o mundo das zonas rurais para as urbanas — um dos principais actores no teatro das alterações climáticas, quer como causadores do problema, quer como vítimas.

Medina destacou que em Lisboa e do Porto encontra-se, não só cerca de 50% da população empregada, como também 45% da população do país, o que faz com que sejam importantes contribuintes para as emissões nacionais de gases com efeito de estufa. Por isso mesmo, são um local privilegiado para a aplicação das estratégias de combate e adaptação às alterações climáticas.

“A solução que necessitamos implementar em primeiro lugar é fazer do transporte público a espinha dorsal do sistema de mobilidade”, afirmou o presidente da câmara. “Temos que ter um sistema de transporte público que seja credível, eficaz e acima de tudo acessível economicamente.”

Por isso, salientou o vereador do Ambiente, Estrutura Verde, Clima e Energia de Lisboa, José Sá Fernandes, é fundamental uma boa coordenação e melhoria do sistema de transportes que liga os vários municípios, concretamente as ofertas existentes entre os concelhos limítrofes e a capital

Fernando Medina deu ainda conta da importância de um conjunto de soluções de transporte além daquelas que se designam “convencionais”, como é o caso das bicicletas, motas e carros partilhados, salientando que o seu executivo tem tentado aumentar ao máximo esta oferta.

Defender as cidades

Além do contributo para as emissões de gases poluentes, as cidades estão também na linha da frente em relação às consequências das alterações climáticas. Daí a necessidade de se adaptarem para melhor se defenderem. 

Assim, neste encontro, onde alguns vereadores do ambiente da área metropolitana partilharam experiências, foram apresentadas algumas medidas previstas nos planos locais de adaptação às alterações climáticas, na sua maioria já em prática. É o caso da criação de um parque urbano que funcionará como uma bacia de retenção de água em Setúbal (Parque Urbano da Várzea).

Esta é uma medida que poderá vir a ser enquadrada no Plano Metropolitano de Adaptação às Alterações Climáticas da Área Metropolitana de Lisboa, que tem como objectivo reforçar a capacidade nacional para defender o país de fenómenos climáticos extremos. As suas medidas passam sobretudo pela adaptação de infra-estruturas, equipamentos, métodos e práticas aos cenários futuros do clima nos 18 municípios da área e terão de ser apresentadas em 18 meses.

Elaborado por um consórcio que junta diversas entidades ligadas ao ordenamento do território, informação geográfica e inovação,o plano será feito em três fases: a primeira pretende caracterizar o ponto de partida, isto é, serão avaliados diferentes parâmetros como o clima ou os indicadores socio-económicos dos municípios (decorrerá até Julho). Depois, será feito o levantemento dos principais impactos e vulnerabilidades, um esforço a concluir até final do ano. Finalmente, entre Janeiro e Junho do próximo ano, serão definidas as medidas de adaptação por concelhos e sectores.

Texto editado por Ana Fernandes

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