Madeira admite entrada no capital da SATA Internacional

Governo açoriano quer privatizar 49% do negócio internacional da companhia e tem falado com o Funchal.

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A Madeira admite entrar no capital social da companhia aérea Azores Airlines, a participada do Grupo SATA para o negócio internacional, que o governo açoriano quer alienar até 49%. O tema foi abordado na recente Cimeira Atlântica, que no final de Janeiro reuniu no Funchal os governos açoriano e madeirense, e será falado em futuros encontros.

Para já, ressalva ao PÚBLICO o vice-presidente do executivo madeirense, Pedro Calado, não existe nada de concreto, mas essa possibilidade foi “falada” e estará na agenda da próxima reunião entre a Madeira e a SATA.

“Esse assunto deverá ser abordado na próxima reunião que se fizer com a SATA, nos Açores”, disse o número dois do governo de Miguel Albuquerque, admitindo que uma aproximação à companhia açoriana traria vantagens para o Funchal.

A Madeira olha com interesse para as ligações da Azores Airlines com a América do Norte, vendo aí uma possibilidade de abrir-se a novos mercados emissores de turismo. Por outro lado, a entrada da companhia açoriana nas ligações regulares entre o Funchal e o continente, pressionando os preços da TAP e da easyJet, é outra mais-valia para a Madeira.

“Essa aproximação [com a SATA] terá, naturalmente, vantagens para a região, nomeadamente no que se refere à oportunidade de estabelecer ligações com outros destinos e com o continente americano, para além de beneficiar da ligação existente com a Binter em Canárias”, sintetiza Pedro Calado.

Do lado açoriano, sabe o PÚBLICO, existe essa abertura, embora a prioridade do executivo de Vasco Cordeiro seja, mais do que capitalizar a empresa cujo passivo ronda os 200 milhões de euros, encontrar um “parceiro estratégico” para assegurar maior “robustez e competitividade” à operação da companhia aérea.

“O grande desafio que a Azores Airlines enfrenta não se resume a uma questão de capital. O grande desafio tem a ver, sobretudo e numa primeira fase, com a aliança a um parceiro estratégico que possa trazer consigo, ou que possa congregar à sua volta, o reforço da capacidade operacional, da capacidade técnica, de frota e de recursos, entre outros, que alavanquem a actividade da empresa”, resumiu no início deste mês o presidente açoriano, durante a cerimónia de baptismo do novo Airbus A321 NEO da companhia.

O grupo SATA divide-se entre a SATA Internacional, que engloba as operações para o exterior do arquipélago, e a SATA Air Açores, que é responsável pelas ligações entre as ilhas. E é precisamente a actividade internacional do grupo que tem desequilibrado as contas da SATA. Os últimos dados conhecidos, enviados recentemente pelo governo açoriano ao parlamento regional, contabilizam um prejuízo de 20,6 milhões de euros no final do terceiro trimestre do ano passado para a Azores Airlines, enquanto a SATA Air Açores fechou o período com um resultado líquido negativo de 4,54 milhões de euros.

Ponta Delgada tem justificado os resultados com a forma como o modelo de negócio da aviação tem evoluído nos últimos anos, mas a verdade é que uma auditoria do Tribunal de Contas, publicada em 2016, dava já conta de um passivo próximo dos 190 milhões de euros.

Para inverter a tendência, o executivo açoriano decidiu avançar para a privatização parcial da actividade internacional da empresa. Os tais 49% que já motivou, em Janeiro, uma reunião entre o David Neeleman, accionista da TAP, e Vasco Cordeiro.

No final da semana passada, foi nomeada pelo executivo açoriano uma comissão de acompanhamento do processo chefiada por Elias Pereira, presidente da delegação açoriana da Ordem dos Advogados, onde se sentam também o economista António Martins Maio e o professor universitário João Carlos Aguiar Teixeira.

Já na Madeira, a novidade é um governo social-democrata admitir falar sobre o tema. Enquanto o PS local mostrou-se sempre favorável a uma entrada do Funchal na companhia açoriana, e o Bloco tem pontualmente defendido as vantagens de uma "Air Madeira", tanto para o turismo como para a mobilidade com o continente, Alberto João Jardim esteve sempre contra essa ideia.

O antigo governante argumentava precisamente com os sucessivos resultados negativos da SATA para afastar um possível investimento madeirense num sector em que, defendia, deveria ser a TAP a assegurar o serviço público e a continuidade territorial. Em termos de turismo, os charters nunca pararam de aterrar no Aeroporto da Madeira, daí que essa necessidade nunca se colocou.

Pelo menos, até agora, quando são esses mesmos resultados financeiros da companhia açoriana a abrir a porta a uma conversa mais aprofundada sobre este dossiê. O serviço público da TAP tem merecido críticas no Funchal, e, com o aumento da oferta turística, há necessidade de explorar novos mercados, como o da América do Norte.

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