O sal vai subindo pelo Tejo

Agricultores da Lezíria estão preocupados com o Tejo e defendem nova barragem na Beira Baixa

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Ricardo Lopes

A Lezíria Grande de Vila Franca de Xira é uma das regiões agrícolas mais férteis do país, assegurando uma parte muito significativa das produções nacionais de arroz, de tomate e de milho. Nos seus 13 mil hectares actuam cerca de 300 empresas que geram perto de 2000 postos de trabalho e movimentam 60 milhões de euros por ano. Mas toda esta actividade, hoje muito modernizada, está também totalmente dependente da qualidade da água do Tejo.

O sistema de regadio da Lezíria Grande baseia-se em três grandes estações elevatórias que captam água no Tejo e promovem, depois, a sua distribuição por uma rede de centenas de quilómetros de condutas.

As dezenas de milhões de euros ali investidos nas últimas décadas reforçaram a eficiência dos sistemas e reduziram as perdas de água ao mínimo. Mas, ao mesmo tempo, os caudais médios do Tejo diminuíram e isso faz com que a cunha salina (zona do Tejo até onde as marés levam a água salgada do Atlântico) vá subindo com alguma frequência até ao Norte da Lezíria, ameaçando pôr em causa a disponibilidade da água necessária.

Nos anos mais secos o problema agrava-se. Em 2005 tornou-se mesmo impossível a utilização da água do Tejo captada na estação situada mais a Norte (Conchoso) e foi preciso tomar medidas de emergência, com a construção de uma barreira no rio Sorraia que permitiu reter alguma água e manter o regadio a funcionar. Em 2012, o problema repetiu-se e só foi atenuado com recurso ao pequeno rio do Risco, que mantinha alguma água em condições.

Já em 2017, a preocupação voltou a colocar-se, mas a Associação de Beneficiários da Lezíria Grande de Vila Franca de Xira (ABLGVFX) conseguiu sensibilizar a tutela do Ambiente e a EDP, que promoveu algumas descargas excepcionais nas barragens de Castelo de Bode e do Cabril que ajudaram a manter a água captada no Tejo com a qualidade necessária.

“Ao olharmos para o Tejo percebemos que água temos sempre. A questão é se tem qualidade em termos de sal para ser bombada e utilizada na rega”, sustenta Joaquim Madaleno, director executivo da ABLG, admitindo que 2018 voltará a ser um ano de preocupação para garantir a água necessária.

“Percebe-se que os 7 hectómetros (caudal mínimo) que vêm de Espanha não chegam, o Tejo precisa de mais água para se manter e precisa também de receber mais água de Castelo de Bode, através do Zêzere. Terá que haver, no futuro, uma gestão que tenha em conta não só a produção de energia eléctrica, mas também a manutenção das boas condições do Tejo, da boa qualidade da água, da biodiversidade e que chegue também para os utilizadores, seja na agricultura, seja na indústria”, defende Joaquim Madaleno, considerando que para acautelar o futuro e antevendo a repetição de anos secos, o Estado português deverá também retomar alguns planos de construção de barragens para armazenamento de água.

Nesse sentido, o director da ABLGVFX considera que seria fundamental recuperar o projecto de construção de uma grande barragem no rio Ocreza (na zona do Alvito, distrito de Castelo Branco), que já esteve no Plano Nacional de Barragens, mas foi retirado.

Joaquim Madaleno julga que essa infra-estrutura seria capaz de reter água suficiente para garantir outro tipo de caudais no Tejo e beneficiar todas as actividades económicas situadas a jusante, incluindo a agricultura que se faz na Lezíria de Vila Franca, a 150 quilómetros de distância.

“Houve uma pressão dos ambientalistas para não se fazer, mas até tem pouco impacto ambiental, porque não vai mexer com populações, nem no leito do Tejo. Vai mexer num afluente que está no meio do nada. E isso faria com que estivéssemos menos dependentes de Espanha”, salienta Joaquim Madaleno, admitindo que a situação é preocupante. “Em 2018 só Deus sabe como será, porque se não houver água nas barragens não se pode fazê-la”, conclui.

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