A RTP 2 mostra os filmes caseiros de Ingrid Bergman, do escândalo à estrela

Dia 1 de Março, às 23h15, o documentário Ingrid Bergman — Por Si Própria mostra a actriz na voz de Alicia Vikander, dos filhos, mas também na primeira pessoa

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Um cartaz em Cannes, em 2015, assinalava a homenagem a Bergman e a estreia do documentário que agora chega à RTP2 REGIS DUVIGNAU/Reuters

Numa coisa as opiniões sobre Ingrid Bergman — Por Si Própria coincidem: as imagens privadas e os filmes caseiros que o documentário mostra são um tesouro. O documentário do realizador sueco Stig Björkman chega quinta-feira à RTP2. Existe uma versão curta, “televisiva”, mas o canal vai exibir o filme integral de 114 minutos, tal como foi estreado no Festival de Cannes em 2015.

Um íman para os cinéfilos ou um retrato que pouco mais acrescenta em esforço do que muitos outros disponíveis sobre a estrela sueca? O rosto de Casablanca e os ouvidos de Difamação, Ingrid Bergman tem a vida amplamente documentada. Estrela do fim da era de ouro de Hollywood e do neo-realismo italiano, que filmou com Alfred Hitchcock, Roberto Rossellini ou Ingmar Bergman, era dona de três Óscares e de um arquivo meticulosamente recheado. Sempre soube que seria uma estrela, disse a certa altura à filha Isabella Rossellini, e por isso guardou fotografias, filmes ou as cartas que trocava com os seus realizadores e amigas — ou com o escritor Ernest Hemingway, que na adaptação cinematográfica do seu romance Por Quem os Sinos Dobram (1943) foi peremptório: “Só a senhora Bergman, e mais ninguém, deve desempenhar o papel.”

A sua relação com o pai, o fotógrafo Justus, foi tão importante quanto a de uma filha órfã de mãe aos dois anos, mas também quanto a de uma menina constantemente fotografada pelo pai e que viveria o resto da sua vida a relacionar-se com as câmaras. 

Essa, e outras histórias, são contadas por Ingrid Bergman — Por Si Própria, através das vozes de Isabella e Ingrid Rossellini, as filhas gémeas que teve no seu segundo casamento com o cineasta italiano Roberto Rossellini, por Roberto, o filho mais velho dessa união, ou pela meia-irmã mais velha Pia Lindstrom, filha do primeiro casamento de Bergman. Outra voz é a da actriz sueca Alicia Vikander, que interpreta Ingrid Bergman em voz off, lendo as suas palavras. O documentário ouve Liv Ullmann, com quem Bergman contracenou no último filme da sua carreira, Sonata de Outono, de Ingmar Bergman, Sigourney Weaver, que com ela actuou no palco. A música é de Michael Nyman.

São histórias também contadas pelas imagens que ela própria captou, de bastidores do trabalho — a actividade que dominava a sua vida, como confirmam os filhos que viviam em diferentes países — e da vida familiar, mas também filmes de Bergman, a estrela a certa altura considerada o ideal de beleza da mulher americana, na sua própria pele. A mesma América tornou-a pária quando se soube que tinha fugido com Roberto Rossellini e tido com ele um filho ainda casada com o primeiro marido. O divórcio e a sua imagem americana marcaram o início dos anos 1950, criticada no Senado e banida de alguns programas de televisão famosos. A sua carreira evoluiria na Europa, onde filmaria com o francês Jean Renoir, por exemplo. 

“Parte do que torna Ingrid Bergman — Por Si Própria tão prazenteiro é que é tão insistentemente celebratório, apesar dos traumas e dor que vão gotejando”, escreveu em 2015 a crítica do New York Times Manohla Dargis. Figura luminosa e nem sempre constante na vida pessoal, facetas que o documentário sueco tenta mostrar, existe, por outro lado, um lado metódico de Ingrid Bergman como actriz que fica por explorar mais afincadamente, nota a revista Variety

O filme estreou-se em Cannes na presença de Isabela, que presidia nesse ano ao júri da secção Un Certain Regard. Era o ano do centenário do nascimento da sua mãe, que presidira por seu turno em 1973 ao júri da competição pela Palma de Ouro. Bergman, que morreu em 1982 de cancro da mama, foi homenageada numa sessão especial em que passou este filme, cujo autor já assinou ficção e outros documentários, nomeadamente Tranceformer — A Portrait of Lars von Trier ou... But Film is My Mistress sobre Ingmar Bergman.

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