O almoço estrutural vai ter o acessório a rondar a mesa

O Presidente da República recebe na segunda-feira o novo líder do PSD a sós, mas os temas estruturais para os quais ambos defendem consensos estão ensombrados pelas divergências internas dentro do partido.

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MIGUEL A. LOPES / LUSA
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O Presidente da República volta a receber o novíssimo líder do PSD em Belém ao fim de uma semana longa e atribulada para Rui Rio. O encontro é desta vez a sós, sem declarações e sem fotografia. Céu nublado, risco de aguaceiros e temperaturas a máximas de 14 graus é a previsão meterológica para segunda-feira em Belém, Lisboa.

De uma varanda do Atlântico a 4500 quilómetros de distância e com 14 graus centígrados a mais, Marcelo Rebelo de Sousa foi acompanhando o novelo em que se enredava o PSD na semana pós-congresso. Um líder parlamentar em funções excluído da Comissão Política Nacional, o seu sucessor a somar apenas um terço dos votos da bancada e uma ex-ministra da Justiça a a contestar a legitimidade do novo chefe no Parlamento e a classificar como "traição" e escolha de Elina Fraga para a direcção do partido.

Em São Tomé e Príncipe, o Presidente da República cuidava para não falar da política nacional, depois de ter dito apenas que vai “acompanhar” os esforços de consenso entre os partidos prometidos por Rio. Mas o rebuliço no PSD estava-lhe na cabeça.

No seu jeito de conversar com os alunos em sala de aula, Marcelo avisou uma menina, que disse ser karateca e querer ser juíza, para o perigo de chegar a bastonária e depois virem todos os advogados atrás dela.  Aos universitários ensinou que, quando as pessoas se conhecem há 40 anos, “já não há surpresas”, depois de lembrar que Rui Rio foi seu secretário-geral, mas também que foi constituinte com Jerónimo de Sousa e professor de António Costa e Assunção Cristas.

À medida que o burburinho social-democrata subia de tom em Lisboa, o chefe de Estado descia a temperatura e remetia-o à condição de “acessório”, tentando dirigir os olhares para o fundamental. E o fundamental são as questões estruturais já enunciadas pelo Presidente, o primeiro-ministro e o novo líder do PSD: as prioridades do Portugal 2030 e os fundos estruturais.

Para Marcelo, faz sentido, não só que todos os partidos seja envolvidos nessa discussão – por isso os chamou a Belém na semana anterior -, mas que o PSD esteja de acordo com as decisões. Numa espécie do tal bloco ao centro que pôs a cantar a Grândola, Vila Morena em São Tomé.

Marcelo deixou Lisboa logo após ter recebido uma delegação da nova direcção do PSD saída do congresso (sem Elina Fraga) e na noite anterior à reunião entre Rui Rio e António Costa em que os dois líderes deram o pontapé de saída para uma “nova fase” no diálogo interpartidário e estabeleceram uma metodogia de trabalho comum, tal como o chefe de Estado dissera que os partidos deviam fazer.

Se tudo corresse como o previsto, o ruído de fundo seria à esquerda, com os parceiros do Governo a olhar de esguelha para a aproximação entre os dois grandes.  Só que a contestação da bancada parlamentar do PSD e das distritais lá representadas gritou mais alto e tornou-se um tema incontornável à mesa dos dois líderes social-democratas. Nenhum deles quer ver o partido fragilizado. Quando o assessório ameaça o estrutural, tocam as campainhas.

Com o apito na boca, o Presidente da República arbitrou nas Neves são-tomenses um derby infantil “exemplar e limpo” apesar de uma das equipas estar em desvantagem, já que dois jogadores tinham apenas uma chuteira. O jogo terminou sem golos, um resultado que não acontece na política porque, como também lembrou por ali, em política não há empates.

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