O maior risco de Rui Rio

Um pacto para a Justiça com António Costa é o maior risco que Rui Rio pode correr. Porque é pessoal, porque é estratégico. E porque Rui Rio não o assumiu na campanha interna.

Não faltam conflitos internos na história do PSD, mas só dois resultaram de um choque de estratégias. O maior de todos acabou numa cisão com o fundador: foi quando o grupo das “Opções inadiáveis” exigiu a Sá Carneiro uma aproximação ao PS e, face à  sua recusa, deixou a bancada sem metade dos deputados. O segundo choque veio com a “Nova Esperança”, quando Marcelo, Santana e Júdice lutaram contra o Bloco Central.

Os dois momentos em que o partido se partiu por causa da relação com o PS tiveram um elemento em comum: Portugal estava sob intervenção do FMI.  

Depois das cisões, só sobraram ao PSD as divisões. Barroso contra Nogueira, Marcelo contra Santana, este contra Barroso, Mendes contra Menezes, Manuela contra Passos, este contra Rangel. Estas lutas desuniram, partiram o PSD por dentro, mas não lhe dividiram o coração.

Agora, bastou uma semana de liderança de Rui Rui para se abrir uma nova guerra “laranja”. À primeira vista, parece uma luta de facções, dividida por capítulos e com muita imprudência à mistura. Começou com o desafio de Montenegro e Hugo Soares no congresso; prosseguiu com a nomeação de Elina Fraga para uma vice-presidência; acabou com a terrível votação de Fernando Negrão para a liderança da bancada. Se fosse pessoal, acabava rápido. Mas não é só.

A verdade é que Rui Rio desafiou o coração do PSD ao propor um novo diálogo com António Costa. Fê-lo com dupla ousadia: é que o país não tem já o FMI; e o PS governa sem ser o mais votado. Mas Rio foi claro na campanha e ganhou as directas assim. A reunião de duas horas e meia, em São Bento, pode ferir o coração dos críticos, mas não lhes dá a legitimidade de o contestar.

Mas o maior risco que Rui Rio corre, porém, é quando este diálogo assumido com o PS se cruza com a sua agenda para a Justiça. Pelo anúncio de uma ruptura no discurso do PSD, que bate nos limites da independência do Ministério Público ou na excessiva violação do segredo de Justiça.

O risco é maior, porque junta as duas guerras no PSD numa só. A guerra pessoal, porque criticar o Ministério Público e pôr o foco no segredo de Justiça será visto, no partido, como uma ajuda a Sócrates e Salgado, persona non grata para o mundo social-democrata; a guerra estratégica, porque abre uma auto-estrada a António Costa onde o PS não podia entrar, precisamente por ter José Sócrates em julgamento. 

É por isso que um pacto para a Justiça com António Costa é o maior risco que Rui Rio pode correr. Porque é pessoal, porque é estratégico. E porque Rui Rio não o assumiu na campanha interna.

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