Minha especialidade

Acontece-me passar por conhecedor de peixe. Mas não é bem assim.

Acontece-me passar por conhecedor de peixe. Mas não é bem assim. A Maria João foi das primeiras pessoas a descobrir-me a careca - isto para não falar nos verdadeiros conhecedores de peixe, a quem bastam dois minutos para averiguar a minha ignorância.

Uma vez alguém perguntou-me se eu me considerava um entendido do peixe. Nem tive tempo de encher o peito de vaidade, levantar uma sobrancelha e responder "Nem por isso..." com a entoação de quem está a confirmar que "sim, efectivamente considero-me um especialista em matérias piscícolas".  A Maria João antecipou-se e já estava a esclarecê-lo: "Ele não é um conhecedor de peixe. Ele é um conhecedor das expressões do Senhor João, do Senhor Manuel e do Senhor Carlos".

Isto é verdade. Eu limito-me a consultar estes meus amigos quando estou à frente da montra do peixe. Sim, faço de conta que estou a estudar atentamente a perfeição de frescura e de fisionomia dos vários candidatos a serem almoçados. Sim, até espeto o dedo e aperto um cachaço de vez em quando - mas é mais para impressionar os outros clientes do restaurante, que considero meus concorrentes.

Mas a única coisa que de facto faço é estudar as palavras e a linguagem corporal dos meus informadores. Como bons e leais empregados do restaurante não podem dizer mal de qualquer peixe, até porque ele é todo bom e fresquinho. Mas lá está: há sempre um que está melhor do que os outros e esse é o único que eu quero pescar.

Olho para eles e não para o peixe - porque o peixe não fala.

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