"Não estou à espera de uma rebelião. Não estou pessimista"

O líder parlamentar do PSD eleito por uma minoria de votos garante que não vai fazer uma caça às bruxas para descobrir quem foram os elementos da sua lista que não votaram nele.

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Fernando Negrão foi eleito líder parlamentar com 39,7% dos votos LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Fernando Negrão acredita que haverá bom-senso na bancada parlamentar que agora dirige e não espera nenhum levantamento por parte dos deputados sociais-democratas, mesmo que esse, de alguma forma, já tenha acontecido. E garante aos 88 deputados que vai ficar no lugar a menos que haja uma rebelião.

"Desisto com muita dificuldade porque quando me proponho fazer uma coisa levo até às últimas consequências. Portanto a minha intenção é levar este desafio até ao fim", disse esta quinta-feira à noite na SIC Notícias. "Abandonarei a liderança do grupo parlamentar se houver uma rebelião; agora, estamos a falar de pessoas adultas e, para além disso, presumo eu que essa rebelião não esteja em curso", acrescentou no mesmo canal.

O conceito de rebelião é encarado de forma subjectiva, até porque, apesar de ter sido eleito com 39,7% dos votos — contando os votos brancos como não sendo votos que o rejeitem —, Fernando Negrão desvaloriza algumas opiniões deixadas em público por alguns deputados logo a seguir à eleição. Sérgio Azevedo, ex-vice-presidente da bancada, comparou esta visão de usar os votos brancos como votos a favor com a da aprovação da Constituição de 1933 num "Estado autoritário e fascizante".

Negrão desvaloriza: "São opiniões minoritárias naquilo que é o partido, para além de achar essas declarações de 'fascizantes' desse senhor deputado ridículas; relativamente às declarações da deputada Teixeira da Cruz eu diria que são de uma interpretação jurídica de um regulamento que não é a mesma que eu faço". O líder da bancada referia-se a declarações de Paula Teixeira da Cruz Observador onde a ex-ministra defende que a "liderança da bancada não está legitimada".

Da eleição de ontem ficou a saber-se que nem todos os membros que estavam na equipa do líder (35) votaram a favor da lista que integravam. Isto porque, a juntar a estes 35 nomes, Negrão contou com dois votos certos, o de Feliciano Barreiras Duarte e o de António Topa, que são membros da comissão política do partido. Ora, nas contas da eleição haveria pelo menos dois deputados pertencentes à lista que não votaram em Negrão, o que, disse o próprio, levantava uma questão "ética". Mas o recém-eleito líder parlamentar foi o primeiro a admitir que poderão ser mais ao falar em "pelo menos dois". Deixou, contudo, a garantia de que não vai encetar nenhuma caça às bruxas para encontrar quem não lhe deu o voto favorável: "Nem faço ideia quem são, nem tenciono fazer qualquer tipo de diligência para vir a saber quem são, obviamente".

Se não vai tentar descobrir quem são, não se poupa no entanto a criticá-los, perguntando "se estiveram no congresso, se estiveram atentos ao congresso, se viram qual foi a vontade dos militantes no congresso". "E a vontade dos militantes foi de unidade, de coesão", lembrou.

Para os deputados que não se revêem na sua liderança, Negrão apresenta uma solução, na mesma entrevista na SIC Notícias: a porta de saída está aberta e acredita que, mesmo que alguns parlamentares saíssem, não se perderia a qualidade do grupo. "Os que comecem a sair serão substituídos por quem estiver na lista imediatamente antes. (...) Tenho a certeza que os que estão imediatamente antes têm outras qualidades ou as mesmas qualidades".

"Não estou pessimista"

Já esta tarde, à entrada para a primeira sessão plenária enquanto líder parlamentar do partido, Fernando Negrão voltou a falar sobre o clima entre os deputados sociais-democratas. À SIC, defendeu de novo a sua posição dizendo que "nunca nenhum grupo parlamentar conta sempre com todos os deputados. Nunca isso aconteceu. Naturalmente, conto com o maior número possível de deputados".

Ora esse "número maior possível" é nesta altura um terço da bancada, mas Negrão insiste em contar com aqueles que, admite "têm dúvidas". "Esses foram os que votaram favoravelmente, mas eu tenho a certeza que haverá pelo menos mais um terço, com sentido de responsabilidade igualmente colaborará com o grupo parlamentar em nome do PSD", disse.

Não tirando o pé do acelerador contra os críticos, o presidente do grupo parlamentar falou do "terço" de deputados que votaram nulo: "Se não quiserem colaborar não é uma admiração". Contudo, não está à espera de ondas de maior. "Não estou à espera de uma rebelião. Não estou pessimista".

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