Salvador, canta o Zeca, pá!

O teu timbre angelical, a tua amplitude de voz e a verdade e originalidade que pões em tudo o que interpretas, Salvador, permitem atacares este repertório na perfeição, fazendo de ti, aos meus olhos, um perfeito herdeiro da música do José Afonso

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Sibila Lind

José Afonso foi o grande compositor da música popular portuguesa do século XX.

Criador de melodias e letras emergidas de confluência da música tradicional portuguesa, da canção de Coimbra e da música africana, tudo temperado por inspirações jazzísticas e eruditas, a obra de José Afonso é um legado ímpar, universal e intemporal.

Não por acaso, as suas criações são referência de muitos cantores, compositores e cantautores e têm sido alvo de diversas reinterpretações, cantadas (Dulce Pontes, Cristina Branco, Teresa Salgueiro, Sérgio Godinho, os Resistência, Vitorino, Janita, entre tantos outros) ou instrumentais, versões adocicadas (Maio, Maduro Maio pelos Couple Coffee), rockificadas (O Avô Cavernoso pelos Mão Morta), em hip hop (Menina dos Olhos Tristes pela Capicua), jazzificadas (O Canto Moço pelo Laginha e Sassetti) ou eruditizadas (Balada de Outono pela orquestra do festival Permallets).

Sim, é muito longa a lista de adaptações e versões da música de José Afonso, mas a obra é colossal, sempre aberta à reinvenção.

No teu caso, Salvador, acontece teres um dom invulgar, uma espécie de toque de Midas que transforma em muito bom tudo aquilo que cantas. O teu timbre angelical, a tua amplitude de voz e a verdade e originalidade que pões em tudo o que interpretas, permitem atacares este repertório na perfeição, fazendo de ti, aos meus olhos, um perfeito herdeiro da música do José Afonso.

José Mário Branco, numa música que compôs em sua memória, intitulada Zeca, diz:

"Nunca mais te hás-de calar,

Ó Zeca, para nós.

Canta sempre sem parar,

Que é seiva e flor a tua voz."

É bem verdade, o Zeca nunca mais se calou. Mas a tua voz, Salvador, também é seiva e flor, e também tu tens de cantar sem parar.

O meu desafio é simples: nesse sem parar de cantar que é o teu jeito de viver, canta lá o Zeca, pá!

Como post scriptum, em modo de concretização do desafio, deixo a dica: pede ao Júlio Resende para fazer versões para piano das canções Mulher da Erva, Canção de Embalar, Coro da Primavera, Era um redondo vocábulo e Tenho um primo convexo e canta-as sem parar para todos nós.

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