Estado indiano subsidia implantes mamários para mulheres pobres

Tamil Nadu, no Sul da Índia, tornou-se possivelmente o primeiro estado no mundo a oferecer implantes mamários através de financiamento público.

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Mulheres transgénero no festival do eunuco, que acontece anualmente em Tamil Nadu Babu Babu/Reuters

O departamento de Saúde do Estado indiano de Tamil Nadu, no Sul do país, lançou na quarta-feira um serviço gratuito de implantação de próteses mamárias numa clínica da capital, Chennai. "Se não oferecemos [o procedimento de forma gratuita], as pessoas podem optar por métodos perigosos ou contrair empréstimos enormes para o fazer", esclareceu o ministro da Saúde estadual, C. Vijaya Baskar, ao The Times of India.

A inclusão dos implantes e reduções mamárias nas políticas públicas é apresentada como uma medida preventiva, tanto de saúde como económica, uma vez que as pessoas mais pobres daquele estado indiano têm contraído empréstimos que não podem pagar, ou optado por recorrer ao mercado negro e a métodos clinicamente reprováveis, para aceder a cirurgias estéticas que estão apenas ao alcance dos mais endinheirados. "Porque é que os tratamentos de beleza não deveriam estar disponíveis para os pobres?", questiona Vijaya Baskar. 

Inicialmente, o financiamento para as cirurgias estéticas sairá do orçamento do departamento de Saúde, mas estão a ser procuradas soluções para a obtenção de um possível financiamento adicional sustentado pela companhia de seguros estatal United India. A clínica pública Stanley Medical College, em Chennai, fará as operações cosméticas financiadas pelos contribuintes. A clínica já oferecia cirurgias de reconstrução mamária a pacientes com cancro, mas estende agora o serviço a pessoas que desejam alterar o tamanho das mamas por outras razões de saúde ou cosméticas.

A chefe de cirurgia plástica daquela clínica, V. Ramadevi, ressalva ao The Times of India que alguns dos seus pacientes procuram a redução mamária por várias razões, nomeadamente devido a dores nos ombros e costas, erupções cutâneas ou infecções causadas por fungos. O aumento da auto-estima é também uma das razões pelas quais os pacientes procuram aumentar ou encolher as mamas, opção que, de acordo com V. Ramadevi, não deve ser julgada. "Existe um benefício psicológico. Muitas raparigas que têm peitos maiores não gostam de sair de casa. Não há motivo para que essa cirurgia seja restrita aos pobres", esclareceu. Segundo a médica, o procedimento também estará disponível para os homens.

A iniciativa foi alvo de duras críticas: o Governo de Tamil Nadu é acusado de desperdiçar fundos. O antigo director de saúde pública daquele Estado indiano, S. Elango, disse ao The Times of India que a iniciativa "parece populista, mas não é um programa de saúde pública ideal", criticando a posição do Governo. "Os fundos estatais são necessários para doenças emergentes não transmissíveis e para doenças transmissíveis. É triste que agora nos estejamos a focar na beleza em vez de nos focarmos em cirurgias que salvam vidas", acrescentou.

O governo de Tamil Nadu ficou conhecido pela ajuda que presta aos mais desfavorecidos, particularmente durante o mandato da ex-ministra Jayalalithaa. Na Stanley Medical College, além do serviço de cirurgia mamária, também se realizarão cirurgias gratuitas a fissuras labiais e transplantes de mãos, assim como o tratamento de outras lesões. Não é claro se estas intervenções integram o mesmo pacote de políticas públicas.

A cirurgia plástica foi-se tornando mais popular à medida que a capacidade financeira dos indianos aumentou. No entanto, de acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética, realizaram-se em todo o país menos cirurgias de aumento mamário em 2016, o último ano de que há dados, face a 2010 — respectivamente, cerca de 33.000 procedimentos contra cerca de 50.600. Já entre os homens registou-se um aumento, de acordo com o mesmo grupo, com 25.640 homens a procurarem reduções mamárias em 2016, um aumento de 11.000 em comparação com os números de 2010.

Texto editado por Hugo Torres

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