Quebr'a corrente: vamos libertar os cães?

Tânia Mesquita vive numa zona rural em Santarém e vê muitos cães acorrentados, durante todo o dia. Confessa activista pelos direitos dos animais, criou o movimento Quebr' a corrente, para lhes devolver a liberdade

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Tânia Mesquita, 34 anos, tem um vizinho em Santarém que mantinha as duas cadelas ao seu cuidado “permanentemente acorrentadas”. “É uma realidade muito comum por aqui e vemos o mesmo por outras comunidades rurais”, conta, por telefone, ao Pet. Mas aqueles dois estavam mesmo à porta de casa de Tânia, confessa defensora dos direitos dos animais. Já “não os conseguia ver lá presos”. E decidiu quebrar-lhes a corrente.

“Com o consentimento e em colaboração com o cuidador deles, claro”, explica. Abordou o vizinho e disse-lhe que queria construir um espaço vedado, com abrigos, num terreno perto de sua casa. Aí, as duas cadelas “poderiam andar e brincar, livres”. Do outro lado ouviu um sim e, com a ajuda de amigos, cumpriu o prometido. Mas com “tantos animais acorrentados, sem abrigo adequado”, Tânia  Mesquita resolveu que não “poderia ficar por ali”.

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O antes e o depois Quebr'a Corrente

Assim, o que começou “por iniciativa própria” é desde Dezembro último o movimento Quebr'a Corrente, um projecto de activismo que a fundadora quer formalizar enquanto associação. Assume-se como “o primeiro movimento social do país a libertar cães acorrentados, através da criação de espaços seguros e adequados às suas necessidades biopsicossociais, sempre em colaboração com os cuidadores”, e sem acarretar quaisquer custos para os mesmos. Para já, conta com cerca de 20 voluntários no centro e sul de Portugal. “Grande parte do nosso trabalho prende-se com dar apoio pedagógico, alertando para os riscos de manter um cão acorrentado”, conta, e “sensibilizando os cuidadores sobre a segurança, o bem-estar e as necessidades dos animais”.

Das “várias denúncias” que recebe — através da página de Facebook, do email ou do formulário que têm disponível no site —, o Quebr'a Corrente prioriza as situações em que o animal não tem abrigo e poucas “condições de segurança ou higiene”, diz. “As pessoas deixam os animais presos por falta de informação ou por costume, mas muitas vezes fazem-no também por deixarem de conseguir cuidar do animal devido a dificuldades financeiras.”

A activista, que trabalha na área da psicologia comunitária, diz que “nunca quis que este trabalho se fizesse sem a colaboração dos criadores”, uma vez que um dos objectivos do projecto é “contribuir para comunidades mais saudáveis e responsáveis”.

Oficialmente, enquanto movimento, já soltaram e proporcionaram um novo espaço seguro a dois cães, na zona de Santarém.  Antes de criarem o projecto, já tinham içado cerca de seis vedações, número que Tânia Mesquita quer ver “crescer muito” e em proporção directa ao aumento “da rede de voluntários e dos recursos materiais”.

Para isso, pedem doações de materiais necessários à construção das cercas, como redes de alturas superiores a dois metros, estacas de madeira ou postes metálicos, esticadores, dobradiças, fechaduras, portões ou ferramentas. Estão também à procura de voluntários, relembrando que todas as intervenções “decorrem de forma pacífica, recorrendo ao diálogo livre de julgamentos”, garante. Porque, acredita, muitas destas situações não se devem “a falta de amor dos cuidadores para com os animais”. “No final todos queremos o mesmo”, acredita: “Devolver a liberdade a quem está preso sem ter cometido nenhum crime”.

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