Na Síria, é sempre tudo pior

Pior bombardeamento, pior massacre, pior ditadura. Pior déspota. Bashar al-Assad será recordado na história como um miserável assassino.

O massacre de Ghouta que está em curso é mais um crime para a extensa lista assinada pelo ditador sírio. As imagens são revoltantes, mas duram pouco na TV, porque é mais importante preocuparmo-nos com os dislates do futebol ou com as minudências da “geringonça”.

Lá na Síria, vive-se o extermínio de populações indefesas com ataques repetidos a civis. Mas o resto do mundo continua unido e com as mãos sujas de sangue, numa atitude absolutamente lamentável: a União Europeia assobia distraidamente para o lado, fazendo de conta que nem vê o que se passa; a China já tem problemas suficientes com os norte-coreanos para se meter em mais chatices; a América de Trump permanece na sua lógica isolacionista que é também de servilismo aos interesses de Vladimir Putin; já a Rússia mantém o apoio incondicional ao carniceiro Assad, protegendo-o e bloqueando qualquer acção que ponha em causa os seus interesses. Os vizinhos vão tentando aroveitar as fraquezas do Estado sírio — Turquia, Irão e Israel exploram a possibilidade de estender o conflito para lá das velhas fronteiras da Síria. E as Nações Unidas nada podem fazer, pois o Conselho de Segurança ata as mãos do secretário-geral, a quem só resta tentar proteger os muitos refugiados que conseguem fugir do extermínio.

É nestes momentos que a hipocrisia da extrema-esquerda europeia se pode medir com rigor. Felizes com o isolacionismo da Casa Branca de Donald Trump, preferem não ver bandeiras americanas em lado nenhum — mesmo que para isso seja inevitável a repetição de massacres em várias geografias. Não que o posto de xerife do mundo tenha sido ocupado com distinção pelos Estados Unidos, que cometeu muitos e graves erros nos últimos 70 anos. Mas deixar o mundo ao abandono é pior solução, porque os senhores de Pequim e Moscovo têm muito poucas lágrimas para verter pelos desgraçados do mundo.

É certo que mesmo Obama interveio pouco, e mal, para conter o assassino que manda em Damasco — mas ainda ia dando um simulacro de respeitabilidade que limitava a cobertura russa e ameaçava as acções mais criminosas. Assad só massacra o seu povo porque pode, porque sabe que não tem nada a perder, nem ninguém o irá perturbar na sua sanha assassina.

Um dia, este déspota será julgado pelo Tribunal Penal Internacional e condenado pelos crimes que está a cometer nesta guerra. Mas aí já pouco restará da Síria e dos sírios, que são os primeiros mártires da nova ordem mundial.

 

dqandrade@publico.pt

 

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