Rio quer abrir o partido e reformá-lo por dentro

O presidente do PSD pretende atrair novos quadros, ouvir universidades e representantes sociais. Mas também reformar o aparelho. David Justino vai coordenar o programa.

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David Justino vai coordenar o programa eleitoral do PSD Miguel Manso

O programa eleitoral que o PSD vai apresentar às legislativas já está a ser preparado e é coordenado pelo primeiro vice-presidente do partido, David Justino, soube o PÚBLICO. Esta tarefa é considerada prioritária e central para a liderança de Rui Rio, no que diz respeito ao objectivo de ganhar as eleições legislativas, e tida como o instrumento de recuperação e alargamento eleitoral do partido.

O programa será elaborado em grupos de trabalho, com a preocupação de envolver novos quadros, e para a sua preparação serão reactivados o Gabinete de Estudos e o Conselho Estratégico do PSD. A ideia é que seja feita uma discussão alargada e aberta a independentes, académicos e representantes de sectores sociais, de modo a abrir o partido a contributos que permitam a definir não só as propostas a apresentar mas também o seu impacto social.

Para isso, deverão ser organizadas reuniões, sob a forma de convenções, com personalidades da sociedade civil e da universidade. Estes encontros não irão apenas abordar os convencionais temas da economia, mas apostar em novas áreas, que vão além dos sectores de governação tradicionais, como a segurança social, as políticas para o envelhecimento, a Saúde e a Educação, referido, aliás, por Rio no discurso de encerramento do Congresso.

Esta abertura do partido é uma das apostas estratégicas de Rio e será feita também através de uma nova atitude do PSD, a qual passa pela recuperação da defesa de compromissos de regime com o PS. Rio foi claro na abertura do Congresso ao dizer que o PSD não está disponível para alianças de governo do tipo do Bloco Central. Mas fez questão de lançar, logo no primeiro discurso, os temas em que o PSD está disponível para chegar a consensos reformistas com os socialistas: Justiça, sistema político, descentralização. Temas a que acrescentou a Segurança Social, no discurso de encerramento. No sábado, em entrevista à Antena 1, o presidente do PSD precisou que pode até não haver acordos finalizados até às legislativas, mas que o PSD quer lançar a discussão e mesmo “assinar declarações de intenções”.

Revolução no aparelho

A abertura do PSD que Rio quer fazer passa também pelas próprias estruturas partidárias e pela sua organização em todos os patamares, incluindo o concelhio. A fórmula precisa dessa abertura do aparelho partidário não é conhecida, mas ao que o PÚBLICO apurou pode passar por uma reforma interna no funcionamento das estruturas, permitindo ao PSD atrair novos quadros políticos que se destaquem em várias áreas do conhecimento e da organização socioeconómica.

A intenção de reformar o partido foi referida de forma explícita por Rio no discurso de abertura, sem suscitar palmas dos delegados. De acordo com as informações obtidas pelo PÚBLICO, Rio considera que é vital para uma vitória eleitoral do PSD nas legislativas mudar o partido por dentro e não apenas adquirir um ímpeto reformista e negocial. E uma das surpresas que a sua liderança pode trazer é precisamente abrir caminhos na organização do sistema político através do sistema partidário.

É conhecida a preocupação de Rio com a erosão eleitoral do PSD nas autárquicas de 2013 e 2017, bem como é sabido que nenhum partido que não tenha os seus canais distritais e concelhios abertos à sociedade, não se renova nem consegue atrair apoios e votos. Não foi, assim, por acaso que Rio incluiu nas metas eleitorais a vencer pelo PSD, as regionais da Madeira, as eleições do Parlamento Europeu, as legislativas e as autárquicas que, curiosamente, referiu em primeiro lugar.

Sintomática da reforma que Rio quer fazer no PSD foi a manifestação, no discurso de abertura, do seu desagrado com “os vetos de gaveta à entrada de novos militantes por medo de se poder perder a pequena influência local”. Segundo informações recolhidas pelo PÚBLICO, essa prática tem sido usada em algumas concelhias para controlar as eleições internas e os sindicatos de voto.

É bom lembrar que foi Rui Rio quem, há duas décadas, como secretário-geral do então líder do partido Marcelo Rebelo de Sousa, introduziu alterações na organização do PSD, como o pagamento obrigatório de quotas através de transferência bancária. Então, Marcelo deixou cair Rio perante a revolta das distritais e do aparelho partidário contra a ideia de limpeza dos ficheiros partidários e abate dos mortos e dos ex-militantes. Há quem garanta que essa medida poderá avançar agora.

Decisivo nesta reforma interna será o processo eleitoral para os órgãos concelhios (a decorrer) e distritais (a ocorrer no Verão), nos quais deverá dar-se a disputa do poder entre as pessoas em quem Rio confia e aqueles que se lhe opõem.

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