Luis de Guindos será o próximo vice-presidente do BCE

O "veterano" do Eurogrupo recolheu o apoio unânime dos seus pares e vai deixar a política espanhola para ocupar a vice-presidência do BCE

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A candidatura do ministro espanhol Luis de Guindos teve o apoio de Portugal Reuters/FRANCOIS LENOIR

Foi uma decisão por unanimidade e aclamação: pela primeira vez, os ministros das Finanças do Eurogrupo escolheram um dos seus, e endossaram a candidatura do ministro espanhol da Economia e Competitividade, Luis de Guindos, para o cargo de vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), a partir de 1 de Junho.

O consenso só aconteceu depois da saída de cena do outro “concorrente” ao cargo, o governador do banco central da Irlanda, Philip Lane, cuja candidatura foi formalmente retirada minutos antes do início da reunião do Eurogrupo. “Há umas semanas, nomeei Philip Lane para o cargo de vice-presidente do Banco Central Europeu. Mas hoje confirmo que não iremos manter a sua candidatura na votação desta tarde”, informou o ministro irlandês das Finanças, Paschal Donohoe.

Apesar de considerar o seu homem “um candidato ideal” e “excepcionalmente bem qualificado” para o cargo, o governante admitiu que a sua candidatura poderia ser uma “fonte de discórdia”: o irlandês era claramente preferido pelos membros do comité de assuntos económicos e monetários do Parlamento Europeu, que ficaram mais bem impressionados com o desempenho do governador do banco irlandês e manifestaram algumas “reservas” quanto à nomeação de um político para o cargo. Mas mal Luis de Guindos se perfilou como candidato, foi claro que o seu nome reunia maiores apoios políticos junto dos seus pares.

“Acreditamos que dada a importância do papel do vice-presidente do BCE, é crucial que a sua escolha seja feita na base do consenso. E nesse contexto, decidimos que seria do interesse da zona euro retirar a candidatura [de Philip Lane] antes que se procedesse a uma votação”, justificou o ministro irlandês das Finanças, que disse ter a certeza que “Luis de Guindos fará um trabalho excelente”. “Tem uma boa reputação e é reconhecido pelos seus colegas”, resumiu o ministro alemão, Peter Altmaier, à entrada da reunião.

No final, Mário Centeno mencionou o “perfil de decisor” e a riqueza do currículo do espanhol, e destacou as qualidades que de Guindos evidenciou na condução das finanças espanholas de uma situação financeira difícil até ao actual estatuto de “campeão de crescimento” do país. “Confio que vai desempenhar o seu papel com total independência”, respondeu o presidente do Eurogrupo, que procurou esvaziar qualquer polémica sobre o impacto da nomeação de um político na independência do BCE.

Com o apoio do Eurogrupo, o ministro espanhol — que em 2015 tentou, sem sucesso, ser eleito presidente do Eurogrupo — cumpre a primeira de várias etapas até ser confirmado no cargo. A recomendação do Eurogrupo deverá ser formalmente adoptada esta terça-feira pelos ministros reunidos no conselho de Economia e Finanças, e posteriormente ratificada pelo Parlamento Europeu e pelo conselho de governadores do BCE (onde estará sentado Philip Lane).

Não se espera que nenhum dos dois organismos apresente objecções que travem o processo, embora o Parlamento Europeu possa atrasar a nomeação, reclamando por exemplo do desequilíbrio de género nos cargos de topo do BCE. A decisão final pertence ao Conselho Europeu, que se não houver mudanças no calendário deverá pronunciar-se no seu encontro de 22-23 de Março.

A substituição do português Vítor Constâncio, cujo mandato termina a 31 de Maio, era o ponto da agenda do Eurogrupo que estava a suscitar maior interesse por causa das leituras políticas que poderiam ser feitas a partir dessa escolha. De Guindos será o primeiro de uma série de novos protagonistas que entrarão na cúpula do BCE até ao final do próximo ano: quatro dos seis membros do conselho executivo, que determina a política monetária da zona euro, chegarão ao final do seu mandato, incluindo o presidente Mario Draghi, que sai em Novembro de 2019.

Apesar da natureza eminentemente técnica dos cargos, a dança de cadeiras tem por base uma complexa coreografia política: nos bastidores, as negociações entre os países pela distribuição de papéis estão em curso. A entrada de um vice-presidente do Sul da Europa abre o caminho à nomeação de um presidente do Norte — o nome de Jens Weidmann, o presidente do Bundesbank, é o mais mencionado na bolsa de apostas. O governador do banco alemão tem criticado as políticas [de quantitative easing] de Draghi, pelo que se antecipa uma mudança de direcção no BCE com uma nova liderança.

Nova tranche de 5,7 mil milhões a caminho da Grécia

Na reunião, os ministros do Eurogrupo também avaliaram as últimas medidas levadas a cabo pelas autoridades gregas na execução do seu programa de assistência financeira, manifestando a sua convicção de que em breve será possível concluir a terceira revisão e avançar com o reembolso de uma nova tranche de 5,7 mil milhões de euros. “Foram cumpridas 98% das acções prioritárias”, informou o comissário europeu, Pierre Moscovici, que anunciou a partida para Atenas do grupo de missão que iniciará a quarta revisão, já na próxima semana.

De resto, voltou a ser abordada a questão do aprofundamento da união monetária e económica, com a discussão a abranger as formas de reforço do mecanismo europeu de estabilidade e também a sequenciação das medidas — em termos de redução de risco e partilha de risco — para a aplicação do chamado roadmap da união bancária, aprovado em 2016.

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