“Temos de manter o black no Black Panther” — filme já bateu recordes num só fim-de-semana

Filme mais visto do fim-de-semana nos EUA e em Portugal é o mais rentável de um realizador negro e mostra como os elencos negros não afastam os públicos internacionais. Black Panther deve fazer 312 milhões de euros no mundo.

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O fim-de-semana de Black Panther foi assim: filme mais rentável de sempre de um realizador negro e filme mais rentável com um elenco maioritariamente negro; segunda melhor estreia do ano em Portugal, o mais visto do fim-de-semana e já um dos dez mais vistos de 2018. Nos EUA, fizeram-se sessões extra, visitas de estudo aos multiplexes ou brincadeiras na NBA. Fez-se muito dinheiro com um filme que ainda não chegou a mercados como a China ou a Rússia, mas que deve fazer 312 milhões de euros de receitas globais, segundo a consultora comScore.

Segundo as estimativas divulgadas esta segunda-feira pela Hollywood Reporter, vender-se-ão 194 milhões de euros de bilhetes nos EUA até ao final desta segunda-feira, dia feriado no país (é o Dia do Presidente), números descritos como “espantosos”. O filme esgotou sessões no fim-de-semana de alguns dos mercados onde se estreou – na Alemanha, As Cinquenta Sombras Livre (estreado a 8 de Fevereiro) bateu Black Panther, mas em Portugal o último capítulo da trilogia de E.L. James foi mesmo dominado pelo super-herói. Entre a quinta-feira de estreia e domingo, o filme de Ryan Coogler protagonizado por Chadwick Boseman foi visto por mais de 74 mil espectadores em Portugal, que pagaram 442 mil euros e encheram 89 salas em todo o país.

Black Panther, elogiado pelos críticos e motivo de reunião de públicos num mês pouco habituado a estreias fulgurantes de filmes Marvel (a excepção milionária foi Deadpool, há dois anos), é um filme notado por ser o primeiro entregue a um super-herói negro depois de 17 outros filmes Marvel. “Para mim, a verdadeira mudança estará em acção quando actores de diversas raças [não-brancos] forem escolhidos para papéis que não sejam inerentemente diversificados”, defendia no New York Times o professor de Estudos de Media Todd Boyd, da Universidade da Califórnia do Sul.

Algo que até já começara a acontecer neste universo, como a escolha de Samuel L. Jackson para interpretar Nick Fury, um agente do universo Marvel que é originalmente branco, por exemplo. Mas quando deixará a diversidade de ser digna de nota? “Não sabemos onde estamos neste ciclo de produção cinematográfica. Houve um ímpeto no tipo de uso da relevância racial para informar os filmes”, dizia ao PÚBLICO há dias Adilifu Nama, autor do livro Super Black: American Pop Culture and Black Superheroes, que fala também do filme Foge. “Mas de qualquer forma defendo que tal como é importante manter a América no Capitão América, para que possamos apreciar um filme como Black Panther temos de manter o Black no Black Panther.”

Nos EUA, o recorde de um filme realizado por um negro e com um elenco negro substituiu assim a marca que anteriormente pertencia a Straight Outta Compton, o filme sobre os N.W.A. realizado por F. Gary Gray que nem teve estreia comercial em sala em Portugal. Passou directamente para DVD e para os canais premium portugueses, sintoma de uma crença dos estúdios, há muito questionada, de que os filmes com elencos negros não são comercialmente viáveis fora dos EUA. O rentável género dos super-heróis pode agora servir de veículo para o contraditório desse argumento.

Motivo de visitas de estudo, de ida ao cinema envergando máscaras de personagens negros do cinema americano ou vestes tradicionais, a estreia de um dos filmes mais aguardados do ano deu provas da sua transversalidade no fim-de-semana.

Motivou uma ovação no jogo All Star da NBA no sábado à noite, quando o actor Chadwick Boseman passou a máscara do Black Panther ao jogador Victor Oladipo, trocando saudações do filme.

Provocou um breve surto de fake news quando alguns utilizadores do Twitter publicaram falsos relatos de insultos e agressões a espectadores brancos durante sessões do filme da Marvel/Disney. E deu provas da transversalidade do seu apelo (junto do) público – sendo um filme visto como o cumprir de expectativas de décadas para o público negro e sua representação numa arte popular, 37% da sua audiência no fim-de-semana de estreia foi negra.

Adilifu Nama não defende uma “neutralidade racial” como sendo o equivalente à igualdade “no cinema e na sociedade americana. Todos os filmes devem ter a sua perspectiva particular”, defende, “ os filmes negros serão negros, a questão é se são bons, se viajam, se são dinâmicos”.

Além dos números mais sonantes, outros vão sendo conseguidos pelo filme: é a quinta melhor estreia de sempre de um filme nos EUA, a segunda melhor estreia da Marvel (só suplantada por Os Vingadores). A banda sonora, comissariada por Kendrick Lamar, já é a a mais vendida do top da Billboard nos EUA.

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