Salvemos grupos de investigação em vias de extinção

Deve ser equacionada uma política que assegure a sua continuidade desde que a sua prestação seja positiva.

Os resultados obtidos pelas actividades de investigação científica em Portugal têm vindo a atingir parâmetros qualitativos e quantitativos de elevado nível. Eles estão certamente na base da subida generalizada das universidades portuguesas nos diversos rankings internacionais em que elas têm vindo a ser classificadas, factor prestigiante para o país. Na base dos avanços científicos que o justificam está certamente o trabalho realizado no âmbito de diversos grupos de investigação, pilares essenciais para o progresso científico, mesmo se o domínio da sua actividade não se insira em áreas consideradas prioritárias.

A investigação tem estado, desde sempre, associada a “modas”. Eu próprio usufruí, ao iniciar nos passados anos 1960 a minha participação no Centro de Química Nuclear, do facto do domínio científico que então predominava ser a energia nuclear e a aplicação pacífica dos isótopos radioactivos. Isso leva-me a recordar quanto o professor Herculano de Carvalho, que nessa altura presidia à Comissão de Estudos da Energia Nuclear, soube aproveitar essa “moda” criando vários grupos de investigação inseridos em diversas unidades de investigação nas quatro universidades do país e dando início ao que foi o primeiro “boom” da formação doutoral no estrangeiro. No entanto, embora partindo do interesse prevalecente em estudar temáticas relacionadas com a energia nuclear, teve a preocupação, ou a habilidade, de promover novos caminhos de investigação noutros domínios científicos e tecnológicos. Tenho algumas dúvidas de que hoje assim seja.

As “modas” actuais são, naturalmente, outras e, muito provavelmente, mais relevantes do que a dos anos 60. É o caso das “biociências”, das “informáticas” e da “inteligência artificial”. Porém, sem pôr em causa a fundamentação de uma política nelas focada, temo que não estejam a ser devidamente apoiadas as actividades noutros domínios, e consequentemente, que um menor empenho em apoiar essa investigação não prioritária resulte no desaparecimento de alguns dos actuais grupos de investigação, independentemente da qualidade e quantidade da sua produção científica. Isso teria consequências negativas para o progresso da investigação em Portugal.

As unidades de investigação podem sofrer alterações ou mesmo desaparecer sem grandes consequências, o mesmo não direi em relação aos seus grupos. Considero, portanto, que deve ser equacionada uma política que assegure a sua continuidade desde que a sua prestação seja claramente positiva. Uma tal política não deve apenas olhar para as questões financeiras mas para outros problemas talvez mais relevantes, nomeadamente o da idade dos seus investigadores seniores. Suspeito, partindo de situação que conheço e por estar convicto de não ser única, que a média etária elevada dos seus investigadores com vínculo constitua o problema mais grave que os afecta. Penso, por isso, justificar-se agir de forma a ter a noção da dimensão do problema, procedendo ao levantamento de todas essas situações. O momento parece propício para o fazer, dado estarmos à beira de um novo processo de avaliação das unidades de investigação e de a FCT ter os dados que permitem realizar esse levantamento. Isso permitiria identificar os grupos para os quais se justificaria a abertura de concursos públicos específicos para a admissão de investigadores com vínculo que assegurem a sua continuidade. Este é o repto que tenho vindo a manifestar junto de quem tem a responsabilidade nestas matérias. Fi-lo quando estava no activo, repito-o agora; a situação é, naturalmente, cada vez mais premente.

Sugerir correcção
Comentar